"O presidente do FC Porto teve a hombridade de me telefonar a transmitir a eventual decisão do seu clube para o jogo de quarta-feira, tendo mostrado a preocupação de que se a decisão fosse não comparecer tal não deveria ser considerado como uma agressão ao Sporting"
Dizem os manuais que um oxímoro é uma figura de estilo que harmoniza dois conceitos opostos numa só expressão. No fundo, é isso que é quando aplicado para fins poéticos e literários. Ou seja, quando não é utilizado inadvertidamente. Apesar de no futebol português ser uma figura de estilo recorrente ela não se encontra reflexivamente popularizada. Já em inglês a expressão é utilizada sem grande parcimónia no dia-a-dia: para adjectivar pessoas que são ignorantes ou que não sabem do que falam. Já todos vimos e ouvimos a expressão moron, como em "you're a moron". Pois bem, moron, como imaginam, deriva de oximoron. O presidente do concelho directivo do Sporting Clube de Portugal e da Sporting SAD conseguiu pois a proeza de juntar "hombriedade" e "presidente do FC Porto" na mesma frase. Um oxímoro, portanto. Mais um a juntar à longa lista que o futebol português foi produzindo.
Para além, da riqueza formal, a expressão de Filipe Soares Franco também merece uma análise mais substantiva. Antes de mais, por entrar em contradição com as declarações de Paulo Bento, que afirmou, no mesmo dia, estar a preparar o jogo de quarta-feira. Mas para além desta contradição, que não revelará mais do que os problemas de comunicação na estrutura da Sporting SGPS, o oxímoro mostra acima de tudo a falta de comprometimento da actual direcção com aquilo que de forma algo antiquada poderemos apelidar de verdade desportiva. Falta de comprometimento que se manifesta de diversas formas.
Antes de mais, pela incapacidade de tomar uma posição no golavrás gate. O Sporting manteve uma posição de neutralidade, como se à margem dos acontecimentos, que em nada ajuda a dignificar o papel que pretendemos, e exigimos, desempenhe na reforma do futebol português. Em segundo lugar, e como explicou José Manuel Meirim no domingo no jornal Público, o golavrás não era a única porta do cavalo no regulamento da Taça da Liga (A Última Roulote não faz publicidade). Segundo Meirim, no dia 23 vieram a lume factos que poderiam colocar em causa a regularidade da participação do FC Porto na Taça da Liga. O problema tinha que ver com a composição da equipa do Porto no jogo com o Vitória de Setúbal. Meirim cita os regulamentos: "Durante a competição [...] os clubes são obrigados a fazer participar nas suas equipas em cada jogo pelo menos 5 jogadores que tenham sido incluídos na ficha técnica como efectivos em um dos dois últimos jogos oficiais da época em curso, salvo caso de força maior, comunicado à Liga com a antecedência mínima de 5 dias antes da realização do respectivo jogo e, desde que, os motivos invocados sejam considerados pela Liga como justificativos". Mais uma vez voltamos a uma questão linguística, pelos vistos o maior problema do futebol português. Do onze inicial do FC Porto no jogo com Vitória de Setúbal apenas Pedro Emanuel havia sido sido efectivo num dos dois últimos jogos. Meirim continua a citar os regulamentos: "De acordo com o RC [regulamento de competições], o que é um jogador efectivo? Se lermos o RC (se não bastasse a norma transcrita), este contrapõe, com rara clareza, efectivo a suplente (artigos 18.º, n.º 7 e 26.º, n.º 8). Efectivos são os 11 jogadores que iniciam o jogo como titulares". Tendo em conta esta regulamentação finalmente chegamos a um comunicado da Liga Portuguesa de futebol Profissional, datado de 24 de Setembro de 2007 que faz uma outra leitura:« a) existe uma obrigação de "participação efectiva de pelo menos 5 jogadores que tenham sido efectivamente utilizados"; (b) por "efectivamente utilizados" entendem-se os jogadores que fizeram parte da formação inicial ou foram suplentes utilizados.» O ponto de chegada deste imbróglio tem simplesmente que ver com o facto de o comunicado da Liga se referir a uma expressão (efectivamente) que efectivamente não existe nos regulamentos. Para Meirim trata-se de uma alteração da regra por via imprópria, tornando-a inválida.
Mas como se não bastasse o facto de irmos defrontar um adversário em situação irregular na competição que exercia simultaneamente pressão sobre terceiros com a conivência da direcção do Sporting Clube de Portugal, é necessário reflectir sobre os comentários da posta mesmo aqui em baixo, onde são apontadas duas causas ao insucesso desportivo do clube nos últimos anos: os baixos orçamentos e as arbitragens. Sabendo-se que o presidente do FC Porto é um dos principais responsáveis pela degradação do futebol português nos últimos 30 anos e um dos principais suspeitos em vários processos judiciais relativos a corrupção na arbitragem não seria do mais elementar bom senso que a direcção do Sporting Clube de Portugal, na defesa dos mais básicos interesses do clube, se abstivesse de traficar com um representante suspenso de uma organização desportiva? Mais ainda, não se exigiria à direcção do Sporting Clube de Portugal que de alguma forma procurasse uma alteração nos regulamentos disciplinares da FPF e da LPFP para que a suspensão dos dirigentes condenados por crimes corrupção correspondesse uma incapacidade para o exercicío de cargos desportivos durante o período da suspensão?
Não podemos, igualmente, separar estas questões de duas outras. Por um lado, dos benefícios económicos derivados das vantagens competitivas adquiridas por meios ilícitos. Ainda relacionado com a questão das vantagens competitivas convém relembrar que a sua institucionalização coloca os outros competidores em condições de desigualdade em momentos posteriores. Certamente que se poderá argumentar, e com razão, que o próprio FC Porto foi durante décadas prejudicado, em detrimento de Sporting e Benfica, pelo tipo de vantagens competitivas que veio nos últimos 25 anos a adquirir. Isso não legitima, na minha opinião, procedimentos irregulares. Por outro lado, e para além das questões financeiras associadas aos resultados desportivos, é de salientar o facto de o próprio modelo de gestão empresarial que vem sendo defendido pelas diversas direcções do Sporting Clube de Portugal nos últimos 13 anos coloca em causa o regime de concorrência a que estão sujeitas as competições desportivas em Portugal, e no resto da Europa. Se em Inglaterra, para além dos adeptos do Manchester United foi o próprio governo de Tony Blair a inviabilizar a OPA de Rupert Murdoch sobre o clube, com base no conflito de interesses, no caso português com SAD's e clubes sistematicamente no vermelho o futebol não apresenta um intesse económico directo evidente. A não ser que cadeias televisivas, mediadores mediáticos (passe o pleonasmo) patrocinadores, bancos, empresários de jogadores e empresários da construção civil criem um consórcio que tem por base a exploração do futebol português em regime fechado e em detrimento da verdade desportiva, subjugada aos interesses económicos, que poderão fazer rodar campeões ao ritmo das receitas de quotização, serviços de dívida e audiências. Mas nada disto parece interessar à actual direcção do Sporting Clube de Portugal. Recito de memória: Pinto da Costa teve a hombriedade de ligar a dizer que o Porto se calhar não ia comparecer ao jogo amanhã. O que vale é que mesmo escasseando o pão, no rectângulo circo é que nunca falta.
8 comentários:
porto - Leixoes
Nuno; Sapunaru, Bruno Alves, Rolando e Lino; Raul Meireles, Tomás Costa e Lucho Gonzalez; Hulk, Lisandro Lopez e Cristian Rodríguez
porto - Belenenses
Helton; Bruno Alves, Fucile, Rolando e Cissokho; Raul Meireles, Lucho Gonzalez e Mariano Gonzáles; Hulk, Fernando e Cristian Rodríguez
Convocados para o Sporting - porto
Guarda-redes: Nuno e Ventura.
Defesas: Pedro Emanuel, Benitez, Ivo Pinto, Sapunaru e Stepanov.
Médios: Diogo Viana, Sérgio Oliveira, Josué, Dias, Guarin, Andres Madrid e Tomás Costa.
Avançados: Farías, Rabiola, Mariano Gonzalez e Tarik Sektioui.
Efectivos nos ultimos dois jogos (o regulamento obriga cada equipa a jogar com 5 efectivos dos ultimos 2 jogos oficiais): Nuno, Tomas Costa e mariano Gonzalez
Conclusao?
O porto já perdeu!!!
O pipinho queria dizer que o presidente do Porto era un hombre de'idade! Y todavia hay que dar el descuento!!! É mais um oximorcón!
Não lhe saiu bem, coitado.
Um bocado assim como aquela do Cavaco estar a jogar golf e não tratar de assuntos de estado antes do 10º buraco...
Nunca vamos passar de um clube medícore que em 26 anos ganha 2 campeonatos porque estamos sempre com a mesma conversa de sermos prejudicados ...
Dizemos que perdemos o título porque o Luisão fez falta sobre o ricardo ou porque ronny (p.ferreira) marcou com a mão, mas os campeonatos não têm 34 jornadas (neste momento, 30 jornadas)?
Estamos sempre com a mesma conversa do porto beneficiado e com isso DESCULPAMOS incompetencia dos nossos treinadores, dirrigentes e jogadores. tentamos apenas falar dos arbitros pa incobrirmos as pobres exibiçoes e a falta de vontade de ganhar.
por isso é que este ano nao vamos ganhar nada e durante os proximos 5 ou 6 anos também não, se continuarmos com esta mentalidade ...
João.
SL
Palhacito, demos 4 aos tripeiros, enquanto tu te preocupas em criticar o Presidente do meu clube (não do teu, que é o dos cornudos vesgos...)
... O teu presidente não se aguenta nem um minuto depois da próxima derrota...
Aos comentadores,
Que venham para aqui libertar bílis sem qualquer argumento não me incomoda. Já o timing da libertação chateia-me um pouco. Como poderão constatar a posta não tinha qualquer relação com o resultado do jogo de hoje. Precisamente por ser manter, na minha opinião, validade independentemente do resultado é que foi publicada ontem. Vocês, porém, só arranjaram coragem, mas não os argumentos, para comentar depois de se saber o desfecho do jogo. são daqueles que mesmo sabendo dos resultados dos jogos não conseguem acertar no totobola.
Um post absolutamente extraordinário.
Parabéns!
Ao no name:
Como te compreendo. Para mim também é um orgulho ter o grande presidente e salvador do Sporting ao lado de um homem que tem feito tanto pelo Sporting como o pinto da costa.
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