sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A crítica da contratação desportiva

Antes de mais peço desculpa pelo exagero destes dois posts que se seguem. Não volta a acontecer.

Quando Pipinho vem dizer «hoje não contrataria Paredes, porque não correspondeu às expectativas» é grave. Revela categoricamente como o nosso presidente não faz ideia nenhuma de como gerir recursos humanos numa organização desportiva. Com esta tirada não é de admirar a atitude “agora é que me estou completamente a cagar para isto” do Paredes. Isto é, ninguém no seu juízo contrataria em momento algum quem quer que fosse, se soubesse de antemão que esse jogador não iria corresponder às expectativas. Isso é óbvio, e por isso não o dizemos mais vezes. A falha de carácter ou de liderança, como queiram chamar, está em vir dizer isso para as capas dos jornais sei lá eu com que objectivo. Se é correr com ele para fora do Sporting é dizer isso directamente ao paraguaio.
Reparem, para um homem que trabalhe apenas um dia por semana no (piso do) Sporting, calculo que tenha no máximo duas hora por semana para ficar a par do que o Freitas anda a fazer. E já é com sorte. Nesses períodos de tempo, por altura da abertura dos mercados de transferências, Pipinho, quando muito, lê ou ouve o sumário do relatório (de viabilidade) de aquisição de um jogador já com o parecer técnico elaborado pela equipa do Freitas. Aí, rápido que se faz tarde, concede ou não concede a sua autorização suprema. Não creio por isso que ele tenha todo o conjunto de dados que lhe permita uma tomada de decisão consciente e, sobretudo, que conheça bem as margens possíveis de evolução esperada do desempenho de cada um dos seus “novos activos”. Confia-se no Freitas para isso. Daí o seu espanto perante as expectativas não correspondidas. E daí ele transmitir, tal como noutros episódios, a impressão de ter perdido a noção de que ele próprio foi o um dos decisores e co-responsável por todas a borrada que por lá se vai fazendo. É o que acontece a quem trabalha um só dia por semana.
Enfim, ia eu a dizer que para dar rumo à política de contratações confia-se no Freitas e na sua equipa (incluindo, penso eu, o Ribeiro Telles, o Barbosa e o Paulo Bento) para o trabalho de prospecção, observação e avaliação de jogadores. Foi este, até hoje, o seu principal métier e é essencialmente por aí que Freitas deve ser avaliado. Como muito bem diz o Visconde de Alvalade “Pelas características inerentes à função [de gestor de activos], cada decisão, a bem da justiça, deve ser avaliada no momento e no contexto em que é tomada, atendendo à conjuntura do mercado e aos recursos disponíveis.”. Ora os indicadores e dados para se proceder a esta avaliação só o Freitas os detém na plenitude, pelo que temos todos de confiar que ele avalie… da melhor maneira possível. Nesse processo, exige-se que os possíveis resultados de uma decisão sejam estrategicamente equacionados e antecipados com tanto mais detalhe quanto maior for o risco da decisão. A partir daqui entramos no “nosso” métier: a crítica ad hoc. A crítica desportiva had hoc pode parecer desonesta por ser muitas vezes feita depois de observados os resultados de uma escolha (…) [já que] se fundamenta num conjunto de dados que não estavam disponíveis aos agentes no momento de tomada de decisão. Será desonesta se, ao ter participado de todo o processo de decisão, se critique “as escolhas” tendo apenas como base essa fundamentação. Mas não é verdade que a avaliação crítica “honesta” se esgote no quadro ‘do momento da decisão’. Tal como noutras esferas da vida é um erro avaliar-se uma decisão levando somente em conta os efeitos que ela produziu sem atender ao contexto da decisão. Mas não é errado tecer avaliações também com base nesses efeitos à posteriori, relativizando-os q.b.. Não fugindo à regra, a crítica desportiva deve levar em conta estes dois momentos. Neste segundo momento - em que os adeptos são chamados pela primeira vez a participar – é muito difícil estabelecer critérios fidedignos que permitam avaliar os resultados do Freitas.
A sensação de desonestidade pode surgir quando se pretende, por exemplo, ter como critério o sucesso da equipa de futebol. Evidentemente, há toda uma infinidade de factores como a táctica e o posicionamento do treinador, os “jogadores não contratados”, o desempenho das equipas adversárias, do árbitro, etc. que inviabilizam uma séria relação de causalidade directa entre o desempenho da equipa e as contratações efectuadas.
Mas verdade seja dita, se ele recebe um prémio de desempenho de 86 mil euros baseado nos resultados desportivos da equipa então está mais do que legitimizada a crítica do adepto tendo por base este referencial.
Mesmo assim, com mais ou menos exagero, creio que a avaliação do adepto em geral não foge muito de um conjunto imaginário de critérios que se pode aceitar como válido para ser tido em conta, em particular: pela prestação individual dos jogadores contratados (a sua qualidade), do seu peso para a prestação global da equipa e da gestão dos activos na transição de épocas (saídas/entradas; renovações/rescisões).
Vão-me dizer que há sempre factores que não se controlam e quase impossíveis de antecipar como cenário provável - lesões; factor comportamental (adaptação à cidade; relação com colegas, etc.) - e que é ainda assim desonesto avaliar um jogador que “todos” concordariam à partida ser uma boa aposta. Eu respondo que não é. Pela natureza deste negócio (activos são pessoas; as decisões comportam elevado grau de risco; num plantel nem todos podem ter épocas boas; etc.) continuará a haver inevitavelmente erros de casting; não temos outra hipótese. Não se trata aqui de avaliar um ou dois activos, mas de perceber que é na regularidade encontrada de dezenas deles ao longo de n(ove) épocas que nos permite partir para a avaliação do desempenho de um gestor de activos (= o gajo das contratações) e a consequente crítica devida.

Não querendo ser chato, voltando rapidamente ao Paredes como exemplo, não é certo que o Paredes fosse uma aposta segura (basta desconfiar dos elogios de Pinto da Costa sobre o jogador aquando da sua contratação) pois não tínhamos os dados todos que o Freitas tinha (ou devia ter) na altura de decidir por um jogador para aquela posição. Logo só nos resta avaliar ad hoc. Não um, mas dezenas deles.
Portanto, o Freitas que não se queixe.

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