quinta-feira, 5 de março de 2009
O sangue e o suor
A chamada de Liedson à selecção portuguesa tem feito correr alguma tinta e mexido com alguns nervos. Para além da questão legal, que não é de somenos importância - deve um cidadão português na plena posse dos seus direitos cívicos ser excluído de uma determinada área de actividade apenas pela sua naturalidade? - a coisa deve também ser vista de um ponto moral e "objectivo". Retiro desta conversa o "amor à camisola" ou a "ligação afectiva ao país". Todos os que conhecem alguma coisa sobre futebol, e em especial dominam minimamente a história da selecção, sabem que valores mais altos que o amor à pátria sempre se levantaram. Mas levanto a questão. O que é mais importante: o sangue ou o suor? Liedson joga no campeonato português há cerca de seis anos. Mais do que Cristiano Ronaldo, por exemplo, jogou ou irá jogar. Espalha alegria e beleza pelos relvados do país. Já contribuiu para que uma equipa portuguesa chegasse a uma final europeia. Foi em diversas ocasiões o melhor marcador do campeonato português. Ronaldo, por exemplo, contribuiu exactamente com o quê para o futebol sénior no país? Para não ir tão longe, e que tal a celeridade com que se "nacionalizou" o Amaury Bischof, um nome tipicamente português? Um tipo que não fala a língua e que nunca meteu os pés na terrinha. Que "ligação afectiva" tem ele com a pátria? Não estará também ele a contribuir para a degradação da formação dos jovens "portugueses"? O que me choca nisto tudo é a facilidade com que se recrutam determinados jogadores (Afonso Martins, por exemplo) se desejam outros (Robert Pires, por exemplo) num momento em que pouco ou nada deram ao país ao mesmo tempo que se desenvolvem intensos debates sobre outros que passaram a maior parte da sua vida profissional em Portugal e que dão tudo o que têm, e às vezes um pouco mais. Eu ao sangue prefiro sempre o suor.
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10 comentários:
Tens toda a razão. Toda esta "polémica" é de um enorme cinismo, seja qual fôr o ponto de vista que apliquemos para a analisar.
O gestor da Tap nem sequer (que eu saiba) é naturalizado... Veste menos a "camisola" do país perante o estrangeiro?
E, de resto, o que é ser "estrangeiro" hoje em Portugal? É não ter nascido cá, ou é ter nascido cá e ter que emigrar para ganhar a vida porque esta merda de País que temos não oferece oportunidades decentes de vida?
Luisinho,concordo totalmente e assino por baixo!
Alias, mesmo que isso choque os "puristas da formação" faz-me imensa confusão a ligação que fazem de CR ao Sporting! Que raio, o rapazinho jogou UMA época de leão ao peito, passa a vida a dizer que o sonho dele de pequenino era o MU (agora parece que já é o real madrid)...E depois ainda há aquela coisa desconfortável e humilhante de levar 5 do Bayern, mas...somos um grande clube porque formámos o Figo, o CR, etc, etc...parecemos o Valenciennes...enorme clube...
Eu sinto a selecção como o Sporting (outra para chocar os puristas) e gostava de ver Liedson na selecção do MEU país...que já agora não é uma MERDA (desculpa anjo exterminador)! Quando muito nós é que somos uma merda porque não conseguimos fazer nada para mudar muita coisa que está mal. Cabe a cada um de nós dar o seu contributo para melhorar aquilo que nos desgosta...
Luizinho, nem mais. Concordo plenamente contigo. Há "puristas da formação" como luis freitas lobo ou outros, que nao dizem coisa com coisa, quando este é o tema, não sabem o que falar e só dizem merda. liedson tem todo o direito de vir para a selecção e quanto tiver passaporte passa a ser o melgor avançado portugues (h.almeida, n.gomes, orlando sá, postiga ... nenhum destes é melhor que ele). outra situação eu não vejo os puristas a reclamar com: petit, manuel da costa, daniel fernandes, nani etc... nenhum destes nasceu em portugal!!! ate o proprio "treinador" ou "professor" (?) querioz não nasceu cá ... enfim, resumindo: liedson na selecçao já! deixem-se de patriotismos sem sentido...
Não retiro uma carga de ligação afectiva ao país aem causa, é algo que me está inerente.
Assim diferencio uma selecção nacional de um clube. Se posso admitir mercenários profissionais nos clubes, não os posso admitir na selecção. Tal como existe um ideal no Sporting, que baliza e não deixa fundir o clube numa empresa anónima, entendo que a selecção não deve ser um clube à procura do lucro, como tal não deve ser posta à venda para gláudio dos patrocinadores e abutres que por pairam.
Existindo uma norma transcendental e não meramente um reduncionismo económico ou meramente de valores como os resultados a todo o custo, entra a questão do Liedson.
Para a questão dos direitos cívicos, o liedson também não pode concorrer a presidente da república, por impedimentos constitucionais. Quanto a ser o liedson ou qualquer outro jogador naturalizado a ser chamado à selecção nada contra desde que exista uma clara e inequívoca vontade desde o ínicio em representar a selecção. Não me revejo numa selecção onde o fim é meramente o de alcançar resultados a todo o custo, como a chamada de quaisquer jogadores que independentemente da sua qualidade e mais valia, vejam a selecção como um mero trampolim para outros voos ou porque são rejeitados pelas suas selecções. Se aqui posso admitir com clareza a chamada do pepe e do bosingwa, já na do deco tive as minhas dúvidas, que cessaram a partir da latura em que foi chamado (morreu aí a questão).
Para finalizar, o meu óbice tendo em conta o que foi referido tem a com a posição do liedson face à selecção, ele já percebeu que nunca iria ser selecccionado pelo brasil. Assim, contrariando as suas próprias afirmações anteriores de que a represntar alguma selecção seria a do brasil, vira-se agora para selecção lusa, num gesto de aproveitamento profissional. É nesse gesto que não me revejo.
Já agora não sei se a formação de jogadores nas camadas jovens é para manter, ou se é preferível contratá-los ao países exportadores de talentos em africa ou na américa do sul, a FIFA parece que quer intervir e proibir a contratação de jogadores menores fora do seu país de origem.
Yazalde,
Como já tinha referido na posta, a ligação afectiva ao país é muito discutível. De certeza que há muito boa gente que vai à selecção apenas para valorização pessoal ou para obter dividendos económicos, como a história da selecção bem o mostra.
Sobre a presidência da república, o teu argumento não só é risível como demonstra desonestidade intelectual no minímo. No máximo é burrice.
O que a tua posição demonstra são apenas duas coisas com as quais não concordo de todo. Preferes o sangue ao suor e és favorável a critérios ad hoc para definir quem fica dentro e quem salta fora. Eu prefiro o suor. Tu valorizas o sangue. é na boa sócio.
Luisinho:
De todo, a questão com o presidente da república era apenas um exemplo de demonstrativo de como mesmo adquirindo a cidadania não se obtém a totalidade dos direitos cívicos.
Quanto à questão do sangue, creio não me ter exprimido bem. Nada contra o pepe ou o bosigwa, daí não vejo como é que é uma questão de sangue. De resto também não vejo como é que o suor num clube é factor de verificação para a convocatória para a selecção.
Mas admito a tua observação quanto aos critérios pré-estabelecidos, claramente prefiro a norma à priori do que o casuísmo subjectivo à posteriori. Mas isso são as minhas tendências pelo transcendentalismo e formalismo neokantiano.
Pois mas no caso do Liedson não preferes a norma à priori. Caso não saibas aqui fica a definição de ad hoc: "It generally signifies a solution designed for a specific problem or task, non-generalisable and which cannot be adapted to other purposes."
O que a tua argumentação revela é uma visão casuística da coisa. eu prefiro a regra. e prefiro a regra mais aberta possível. Xauzinho
Já agora mais uma. O direito a ser presidente da república é o único que não se adquire com a aquisição da nacionalidade.
e já agora, para parecer que isto tem muitos comentadores, a tua opinião sobre o Liedson interessa-me tanto como a tua opinião sobre se o Petit deve ir à selecção ou se um gajo qualquer joga bem ou não. Isso é como os cus. Cada um tem o seu, neste caso a sua. A questão aqui é de princípio.
Fogo! Nem de propósito...
Abraço Leonino!
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