sábado, 14 de março de 2009

A Técnica, a Táctica e o Surrealismo

foto "roubada" ao blogue catenacc10 e de onde recomendo esta posta descoberta via Pontapé na Lógica

Porque esse teu esquema é burro nem quando ganhas tu tens mérito Paulo”, Valete

Tendo a abster-me de mandar postas sobre tácticas não só porque o Yazalde sabe mais do que eu mas porque, apesar do encanto que há em nos armarmos publicamente em professor marcelo das tácticas, prefiro correr o risco de me embaraçar só entre amigos. Pelo menos quando estou sóbrio. O que me fez então romper com essa premissa apeneilarada? Basicamente a vontade de esbofetear pessoas.
Depois de levarmos doze na bilha e de já termos enfardado dez em dois jogos com os espanhóis pelos vistos ainda há gente adulta que acha que o PBento não tem responsabilidades nisto a que me custa dar um nome. Eles dividem-se em dois. Os primeiros, nos quais quase me incluo, baseiam-se no Princípio de Peter que, curto e grosso, nos leva à condescendência do ‘quem não sabe, a mais não é obrigado.’ E a responsabilidade é pois inteirinha do superior hierárquico que o segurou no lugar que ocupa. Nada a obstar por agora. Os segundos, a quem desde já desejo as melhoras, no seu conjunto apresentam todo o tipo de cósmico-mirabolantes explicações reflexo do quão estão perdidos no espaço. Desde os argumentos da ‘falta de peso’ até à de culpar exclusivamente jogadores (em geral ou particular) ou (ainda!) os orçamentos tudo fazia pensar estarmos perante um ‘caldo’ flaubertiano propício à reflexão sobre a estupidez humana. Mas não, não era estupidez.
Não vou perder muito tempo em discutir com os Tonis da massa corporal que acham que a chave está em trocar o Liedson e o Ribéry pelo Purovic e um desengonçado mas alto e forte alemão, nem em desenhar setas a mostrar como o treinador é responsável pela motivação dos jogadores e em como o nosso tudo fez (e os dirigentes tudo têm feito) para que a “motivação” fosse baixa (e para mim até não foi!) num jogo onde ela até surge com tranquilidade. Vou antes atacar os obcecados defensores de Bento que na hora de justificar um 12-1, a táctica, essa coisa que acima de tudo define os resultados (vem nos livros, ao lado capítulo sobre o cabecear de cima pra baixo), deixa de contar! Qual raposa esperta, metem-na no bolso e, neste caso, a culpa é da falta de “mentalidade” ou das “tipologias de carácter” de alguns jogadores. O emocional explica tudo e abafa tudo! E é tudo! Despacha-se assim o assunto sem sustentar a resposta, sem qualquer referência ao prof. Karamba ou sequer, pra não pedir muito, ao António Damásio. Não havendo, como convém, psicólogos de serviço conclui-se portanto tratar-se de uma vertente até hoje injustamente desconsiderada pelos grandes filósofos e especialistas das Belas Artes: o Surrealismo Táctico-Psicologizante. E como qualquer obra surrealista, ela não se explica pois está gnosiologicamente liberada de explicações.
Fora deste âmbito, a única base mínima para discussão é a de que os jogadores desobedeceram propositadamente ao técnico ou que foram corrompidos pelo Beckenbauer. Mas até agora ainda não ouvi essas…
Ora, mesmo não sendo as tácticas a entrarem em campo, é evidente que são elas que determinam não haver cincos a zeros aí aos magotes.
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O losango até é um bom losango. Para mim, que defendo que a táctica deve ser construída com base nas características dos jogadores e não o inverso, até estou de acordo com ela. Mas não é o losango em si que determina a maior humilhação de sempre. É a vida que ele (não) tem. É a técnica da táctica que está em causa. Se uma equipa sem elasticidade, com melhores jogadores que os adversários (=jogar liedson e vukcevic), com transições ofensivas da pré-primária, sem jogadas planeadas, presos a um modelo do ‘1-0’ pensado a partir da defesa, ainda consegue ir disfarçando as debilidades contra algumas equipas mais fracas, quando apanham equipas com melhores jogadores, outro calibre táctico e ao que se junta um pendor ofensivo “demasiado” planificado e oleado e ainda umas pitadas de azar… é o descalabro! A puta da hecatombe! Deixem-se de merdas! Os jogadores não são papoilas emocionais saltitantes, não andaram a passear (pelo menos na maioria), não estavam corrompidos e nem desobedeceram ao treinador. Fundamentalmente nunca estavam no lugar certo porque ninguém lhes soube ensinar. O resto vem por acréscimo. Ponto final.
A bem ou a mal o Bento há de bazar e agora que todos já têm (ou deviam ter) consciência da gravidade do que foi a política desportiva para o futebol* dos últimos anos importa pensar como fazer o ‘reset’.

* s.f.f., mais uma vez, não a reduzam aqui aos eternos “jovens” da academia.

1 comentário:

Luizinho disse...

Não sei se reparaste mas Valete rima com Flaubert!