quarta-feira, 11 de março de 2009

A casa já ardeu. E agora?

É um facto: o resultado contra o Bayern não devia surpreender ninguém. Aqui e noutros locais se escreveu que o que surpreende no Sporting desde há muito tempo é o ocasional sucesso, se tivermos em conta as condições precárias em que o Clube vive e a corja patética e criminosa que o tem dirigido há mais de dez anos. Nada do que o Sporting faz tem carácter sustentado e consistente. Tudo parece, sempre, preso por arames e em estado de iminente descalabro.
E mais: os efémeros e magros sucessos têm mascarado a verdadeira crise e têm constituido a oportunidade para os coveiros do Sporting se manterem no poder. Não quero naturalmente mal ao Sporting mas esta espécie de sucessos tem contribuido, e de que maneira, para ir mantendo este status quo e esta política de fachada.
Já não há mais desculpas.
O delírio de uns, o oportunismo de outros e a total falta de sentido de responsabilidade de alguns outros, permitiram construir a imagem de um Sporting "grande". Mas, de facto, como no teste do algodão, a verdade, é aquilo que a crítica alemã apontou, implacável, ao Sporting no jogo de ontem: esta equipa não tem categoria.
E esta falta de categoria, clara e recorrente, é o reflexo da total incompetência e do oportunismo dos seus dirigentes. O que assistimos ontem são as sequelas de tudo isto.
O Sporting transformou-se (já alguns o tinham dito...) num clube de bairro, sem dimensão, sem ambição, contentinho com a mediocridade, justificando-a com problemas que lhe são alheios. Hoje o Sporting não passa de uma agremiação de segunda catergoria, cheia de prosápia e enfeitada com miragens, que alguns espertalhaços exploram para seu proveito imediato e para servir desígnios inconfessáveis.
Vê-se muita gente de charuto, mas o cheiro que se sente não é do fumo, é de falsidade e corrupção.
Há poucos verdadeiros Sportinguistas nos corpos directores do Sporting há muitos anos. E quando aparecem são marcados, não têm margem de acção.
Por tudo isto, o Sporting há muito que foi enterrado. Não foi o Bayern que o fez ontem.

Tudo no Sporting está hoje em causa. Não por causa deste resultado conjuntural e humilhante, inimaginável para alguns, embora há muito previsível para outros. O que este resultado veio mostrar, pela sua expressão crua, é, para quem ainda tivesse dúvidas, a dimensão actual do Clube.
O que se passa aqui é um pouco como aquilo que se passa no ordenamento do território. Os técnicos vão elaborando estudos que provam que determinados locais são impróprios para a construção de habitações, por exemplo. As populações ignoram os avisos e continuam a construir nas linhas de água. As câmaras fazem vista grossa e aproveitam para cobrar as suas taxas nestes locais, que de outra forma nunca lhes dariam "rendimento". Um dia uma cheia provoca numa curta fracção de tempo uma enorme tragédia. Toda a gente chora então muito, são criadas medidas de excepção, lamentam-se as perdas. Mas a verdade é que os avisos vinham de trás e as consequências eram previsíveis.
É exactamente o que se passa com o Sporting. A cheia de ontem era previsível, veio com pré-aviso e ninguém ligou nenhuma.

Muitos sportinguistas gostam, à falta de argumentação convincente, de trabalho, de ideias concretas e de real empenhamento na causa do Clube, de invocar a nossa diferença e as glórias passadas. Sucedem-se os grupos de reflexão, os congressos, as associações. Muito falatório, mas pouca acção real. À primeira contrariedade os palavrosos desistem.
Tenho dito e repetido, por outro lado, que quando a casa está a arder não podemos ir calmamente aos bombeiros, aproveitar para ir ao bar do quartel e enquanto saboreamos um cafezinho com o senhor comandante, aproveitar para lhe dizer calmamente "Olhe, a propósito, sabe que estou com um pequeno percalço em casa... tenho um incêndio enorme. O senhor seria capaz, por gentileza, de ir até lá ver o que se passa? E já agora perguntava aos seus homens se quererão ter a maçada, longe de mim querer importunar, de o ajudarem...? Ou talvez pudéssemos aproveitar para discutir aqui estratégias de combate aos incêndios... Talvez ir estudar incêndios lá fora... Veja lá o que será melhor...!" Tem sido este o argumento dos politicamente correctos que aproveitam tudo para ir encanando a perna à rã.

Precisamos de acção. A casa do Sporting está a arder há uma data de tempo e os Sportinguistas continuam calmamente a avaliar o problema, a discutir, a esclarecer, a organizar e a problematizar. Enquanto isso a casa ardeu.
Para esta conversa de bombeiro há vários argumentos. Dos principais, um é o problema da (falta de) alternativa. Um falso problema que toldou o raciocínio a muito boa gente e que dá um jeitaço aos actuais detentores do poder e às sanguessugas que os acompanham. O outro é a história dos bancos e da credibilidade junto deles. Por esse raciocínio só banqueiros poderiam assumir a direcção do Sporting. Vê-se como tem sido as relações com esse sector... E vê-se aliás, pelo que se observa hoje, a credibilidade que os banqueiros e a gente da finança têm...

O que aconteceu ontem é uma tragédia de proporções dolorosas. Por mais punhos de renda, por mais apelos ao respeito pela democracia e ao civismo, a verdade é que a imagem do Sporting foi ferida de morte. Metam isto na cabeça: o que foi feito até agora pelo Clube foi de um modo geral mau. E o pouco de bom que foi conseguido no plano desportivo e financeiro, foi arrumado em 180 minutos em dois jogos contra o Bayern.
O que quer que seja que se vá fazer daqui para a frente será da estaca zero ou perto disso.
Foi para isto que esperaram uma alternativa e que se recusaram a aceitar medidas excepcionais para reorganizar o Sporting?!
Esqueçam o Sporting centenário, esqueçam os campeonatos passados, as glórias passadas, as medalhas nas modalidades, os "produtos" da Academia. os princípios e ideais desportivos do Clube. O que vai ficar do Sporting até ganharmos (se alguma vez o conseguirmos fazer!) outra vez o respeito dos adversários são os 12-1 desta eliminatória. São esses os novos e tristes "recordes"...
Foi este o resultado da inércia, da cobardia e do falso sportinguismo.
A presente situação atinge-nos a todos. Todos temos culpa no cartório. Mas, esta situação tem um nome principal.
Já aqui tinha chamado a atenção há algum tempo para o facto de ter sido durante o consulado de Filipe Soares Franco que o Sporting ouviu "olés" dos adversários perante o bailarico de futebol que estava a levar. Poucos o terão se calhar notado, mas eu não achei aquilo nada normal. É ele o responsável e é a ele que temos de pedir contas. É ele que tem que responder por todas as derrotas e todos os falhanços. Antes de ir para os negócios dele temos umas contas a ajustar...
Mas, ao mesmo tempo temos de, com carácter de urgência, varrer esta gente que nos arrastou para o pior período de sempre do Sporting e encontrar soluções temporárias alternativas de direcção do Clube. Vale tudo para correr com eles! Demita-se a direcção, forme-se uma comissão de gestão, marquem-se eleições e procure-se uma equipa de gente descomprometida com as direcções de há dez anos para cá, com verdadeiros Sportinguistas, dispostos a dar ao Clube aquilo que o Clube precisa: dedicação e amor por ele.
Se não forem tomadas medidas radicais de devolução do Clube aos Sportinguistas talvez não venha a ser sequer possível fazer o rescaldo depois do incêndio.

12 comentários:

Luis Magalhães Pereira disse...

Anjo,

Um texto verdadeiramente Exterminador! e Implacável. Nem mais.

E acções concretas? Esta corja só arreda pé se for pressionada (verbal ou fisicamente)! O que é que propõe?

O Leão de Verdade e a AAS querem agir e quanto maior a mobilização maior a força, e maior a causa e o efeito! E é já pra sábado!

O Luizinho que nos diga alguma coisa!

TM: 913075044

Anjo Exterminador disse...

A minha opinião expressei-a claramente no post: destituição dos actuais corpos gerentes, criação de uma comissão de gestão provisória com a função de manter a gestão do Clube e preparar as eleições.
Este conselho directivo não garante nem uma coisa nem outra...
Precisamos de novos Estatutos, mas isso devem ser os futuros candidatos a propôr.

Anjo Exterminador disse...

Só mais um acrescento. O Sporting atravessa desde há muito um período absolutamente dramático! A dramaticidade atingiu com os jogos do Bayern o limite. Eles constituem um símbolo.
Devemos assinalar o drama com medidas excepcionais porque o momento _requer_ medidas excepcionais.
Neste momento qualquer espera (e ainda pior, qualquer recuo) coloca-nos definitivamente fora da carroça.
Por isso defendo que se deve destituir já o conselho directivo e constituir uma comissão provisória de gestão.
Tem para além do mais um efeito pedagógico sobre os Sportinguistas: o momento é mau, não dá para aguardar mais!

Yazalde disse...

Totalmente de acordo.
Grande post.

Anónimo disse...

Portanto, "Anjo Exterminador", exorta à acção mas fica atrás de um monitor a insultar quem diz nada fazer...
Se calhar em vez de falar nesses, preocupe-se em agir e ser pró-activo!

Anjo Exterminador disse...

Ora bem, então este animal que assina "anónimo" vem-me dizer, a mim!, que eu me escondo atrás de um monitor e acha que isso é que é ser activo...
Pobre Sporting e pobre direcção que tem apoiantes destes!

Virgílio disse...

Anjo:

Estou de acodo com quase todo o post... De tal forma que o mencionei no meu blogue.

Mas permita-me discordar num ponto. Esta passagem :

"...Não por causa deste resultado conjuntural e humilhante, inimaginável para alguns, embora há muito previsível para outros."

Apesar de tudo não acredito que alguém, incluindo o caro AE, prognosticasse algo de comparável com os recentes catastróficos resultados perante o Bayern... ;)

SL!

Anjo Exterminador disse...

Carissimo Virgilio:
Tem razão, eu não previa uma hecatombe desta proporção, claro. Haverá algum exagero na forma como redigi essa frase. Mas, não deixa de ser verdade que resultados negativos são previsíveis na actual situação do Sporting e era isso que queria dizer.
Espero que fique esclarecido. Aproveito para agradecer o comentário e a citação que já tinha visto.
SL

Anónimo disse...

Um texto que nos dá algum alento nesta hora má.

Luizinho disse...

Caro Vírgilio,

A previsibilidade da coisa também seria dirigida a mim, que a referi (à previsibilidade) na minha última posta. Desculpe lá o momento Zandinga, mas já tinha escrito há uns meses (mas não estou a conseguir encontrar a posta) sobre o facto que o máximo que poderíamos esperar desta época era não sermos goleados pelo Barcelona. Mas sinceramente, e independentemente dos meus dons de advinhação, depois de Madrid e Barcelona, não sendo previsível a dimensão da hecatombe também não será propriamente uma surpresa. Acho que é mais uma questão de grau do que de qualidade. Dos 12 não estávamos à espera, mas se fossem 8 ou 9 já não surpreenderia ninguém. E isso é o mais trágico.

Anjo Exterminador disse...

É isso Luizinho! É de facto preocupante a rotina e a banalização do desaire... Cf. de resto a minha ultima posta...

Anónimo disse...

De facto a "rotina e a banalização do desaire" são uma realidade. E será talvez esta rotina e esta hábituação à derrrota que fizeram os sportinguistas aceitar as coisas mais mais inimagináveis sempre com resignação.
O problema do Sporting está na docilidade com que aceitam todos os reveses. E quando alguém exprime indignação perante tudo isto são esses que são o alvo da crítica, não os causadores do mal do Sporting.
Estamos assim... Como é que se resolve isto sem ser a tiro?