sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O sócio e o simulacro

...continuação...

Director geral e gestor das áreas do marketing e da multimédia, Pedro Afra cedo revelou talento na concepção de “ofertas atractivas” para o mundo no qual se sente com peixe na água: o mundo Corporate.
Com efeito, o novo estádio permitia albergar esse público-alvo nos camarotes Sponsor, Corporate, Prestígio e Business Seats. Apesar da inflação dos preços das melhores bancadas (mais próximas da gente bem comporatada), os sócios aproveitariam as boas promoções gamebox apesar de, em termos de contabilidade directa, ser mais vantajoso adquirir uma gamebox adepto em vez de suportar o preço de quotas + gamebox sócio. Mas Afra, esperto para estas coisas, sabia que ser sócio é muito mais do que uma equação racional, não obstante os plurianuais tiros abaixo do alvo (tradicionalmente atingem os pés) quando toca a prever a fasquia do número de game boxes vendidas.
Os restantes dos restantes sócios ou têm um boa conta bancária para suportar o preço dos bilhetes em de dia de jogo ou têm de aguardar pelo jogo de “entrada livre ao sócio” ou têm de tentar ser menor de 16 anos e irem acompanhados... Ah, esperem!.. Err.. pois isso já não existe mais. Bom, não é só os sócios leoninos que têm razões de queixa. Longe vão os tempos em que vinham a Alvalade 12 mil lampiões. Agora, aparecem 1200 galinhas e já vão com sorte.

Porventura inspirado nos ensinamentos dos novos especialistas em marketing desportivo que por aí brotaram, Afra resolveu revolucionar o modo de participação do sócio e do adepto em dia de jogo. Acabou-se o domínio da Palavra, do Vernáculo nos períodos de pré-jogo/intervalo/pós-jogo, e é agora o técnico de som quem mais ordena e nos cala as matracas. Com a intenção de dar ao espectador uma função mais participativa (seguindo os termos dos manuais) substituiu-se o festim tradicional e mais o ‘penalti fidelidade’ pelos chamados métodos centralizados de animação. Isto é tudo muito bonito e “participativo” mas como nem tudo o que vem da NBA é bom, deparamo-nos com alguns limites. E, para não variar, “Os números ficam um pouco aquém do inicialmente esperado".

Não obstante estas chamadas à terra, os entusiastas deste tipo de relação com o sócio não ficaram cabisbaixos pois continuamos todos a receber sms, revistas, mailings, merchandising e material promocional sobre o clube. Só se esquecem é de avisar a malta para as Assembleias Gerais. O que é entendido como mais um sinal de hipocrisia, indiferença e desrespeito (para as más-linguas pois claro) ou como um dissimulado mas genial sinal de alerta de que estes Gestores do Olímpico afinal também falham. Hélas.

Continua…

3 comentários:

Cozinheiro Sueco disse...

E neste terceiro capítulo, continuas inspiradíssimo. Epá, tenho devorado estes posts!

paulinho cascavel disse...

mpre27, não digas isso isso se não esta saga nunca mais acaba...
Mais a sério, é com grande satisfação que vemos bem servidos os nossos melhores fregueses.
Abraço leonino!

Anónimo disse...

Parabéns paulinho, muito bons os teus posts. Já repararam no técnico de som do fcp? dá alma ao estadio e não se limita a dizer um poortoo sem garra nenhuma, como acontece no nosso estádio.