segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sol na eira e chuva no nabal...

... ou, como dizem agora alguns dos mais notáveis comentadores políticos portugueses (e porque imitar o povo nunca ficou bem a ninguém), não se pode comer o bolo e ficar com ele ao mesmo tempo. Vem esta recuperação da sabedoria popular, e de sabedoria não tão popular quanto isso, a propósito das horas indecentes a que o Sporting jogou ontem. Mais uma vez temos duas teses que se complementam. Por um lado uma certa visão octáviomachadiana do mundo: "isto anda tudo ligado" ou "vocês sabem do que é que eu estou a falar". Trata-se, à semelhança do que Mourinho tinha constatado com o Chelsea, de também nós nos apercebermos que a fava calha sempre ao Sporting em termos de programação da jornada. Esta fava, à semelhança de tantas outras também tem duas dimensões (ao contrário da fava real, que tem três): uma desportiva e outra económica. Na desportiva, e de modo impressionista, poderemos verificar que o Porto é o clube que tem geralmente os tempos de recuperação entre jogos mais favorecidos pela Sport TV. Em termos económicos poderemos também verificar que mantendo tudo o resto constante o prime-time futebolístico é quase sempre para o Benfica: mercado oblige. Para nós sobram os jogos à sexta e ao domingo à noite, com implicações sobretudo nas assistências no estádio e na moral dos pobres otários que ainda insistem em deslocar-se ao estádio em vez de se manterem no conforto do lar ou da tasca.
Para além desta dimensão mais octáviomachadiana não será de deitar fora também a água do banho. Na sua estratégia económica, a SportTv, que no fundo é quem calendariza o campeonato português, submete os interesses dos adeptos que vêm futebol em Portugal às suas próprias estratégias comerciais. Impossibilitada de interferir na calendarização do campeonato inglês (joga-se preferencialmente ao sábado à tarde) e no espanhol (sábado e domingo ao fim da tarde) ou no italiano (domingo à tarde) remete o futebol português para os late nights desportivos. Para a malta do sofá até que nem se está mal. O povo das bancadas é que sofre...
Serve este breve intróito para mais uma vez lançar o debate sobre o papel dos consumidores no futebol moderno. Se tenho muitas dúvidas na adopção do modelo inglês de participação dos adeptos na administração das SAD's (por motivos que explanarei, apesar da vossa ânsia, noutra ocasião) esta não deixa de ser uma área onde uma potencial coligação entre uma associação de adeptos de futebol e consumidores de televisão poderia fazer sentido. Quer no sentido de defender os interesses dos adeptos de bancada quer com vista a subtrair a programação desportiva em Portugal da monocultura futebolística.

2 comentários:

Cozinheiro Sueco disse...

...e não vai ser fácil mudar estes hábitos. Domingo, 21:15? Podia ter sido na segunda-feira, responderiam eles. Vermelhacos!

Raul Henriques disse...

Venham de lá essas dúvidas sobre a participação dos adeptos na administração das SAD.
Mas, atenção. A importância de uma Associação de Adeptos não se limita à participação destes nas SAD. O mais importante é que passará a haver uma voz audível junto dos poderes do futebol em geral (dirigentes dos clubes, comunicação social, Liga, you name it...).