quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Era uma vez um sócio

Como é de todos sabido, a partir da transformação do clube desportivo Sporting em SAD operaram-se radicais transformações no modo de gestão do clube. Quotas, empréstimos, subvenções e doações já deixavam de ser as fontes de financiamento dos clubes. A figura do sócio, passou a partilhar a sua posição de decisor e conselheiro com a figura dos accionistas. Mais correctamente, na SAD manda quem pode – os accionistas e, em maioria representativa, a Direcção do Sporting, eleita pelos sócios.
Por via de uma segmentação organizacional foram criadas várias ilhas-empresas do arquipélago Sporting com a finalidade de gerir com maior eficácia as diferentes esferas de negócio, na qual se incluía um novo estádio cheio de cores e diversões. Gestores com MBA maiúsculo, com provas dadas na alta-roda do mercado financeiro e comercial, em quem os sportinguistas depositaram a confiança, prometeram-nos que o sucesso do clube passaria pelo rigor da gestão. (pausa para respirar fundo e contar até dez)
Tal como outra empresa qualquer, urgia eliminar as actividades que não fossem auto-sustentadas, os vícios de um associativismo arcaico e de práticas de gestão presidencialistas que até aí reinavam. Eliminou-se umas tantas modalidades e “afastaram-se” outras para não interferir com o futebol: rei do desporto e do business.
Os sócios - uns convencidos outros não – até não resmungaram por aí além, num sinal positivo de que também eles estariam dispostos a renunciar à paixão em detrimento da razão no que respeita aos tipos de gestão, já avisados que estavam quanto a certas aventuras. Arremessados diariamente com a confrontação destes dois termos antagónicos, quem pensasse o contrário era louco. Apoiados pelos ventos de mudança e numa estratégia bem delineada os gestores conseguiram sensibilizar as bases. Ver os atletas a treinar, ir ao pavilhão ou mesmo ir dar uma espreitadela às bancadas só porque lhe dava na galheta eram coisas mundanas doravante interditas a que o sócio, apesar de descontente, teria de se resignar. Ao fim ao cabo, era uma gestão moderna, porra!
Pode parecer estranho, mas por lá andava, então, o actual presidente do clube que confessou um dia mais tarde: “Quero um clube só de futebol, sem sócios mas com adeptos que não se intrometam na gestão nem tenham voto nas eleições dos corpos sociais”. Porque o futebol “é um negócio que precisa de investidores e porque para se ser bom há que ser especialista”.

Continua…

1 comentário:

Cozinheiro Sueco disse...

Só não afirmo que é uma belíssima retrospectiva porque estes factos são efectivamente, tristes. Quo Vadis, Sporting?