Não vou responder ao Paulinho Cascavel com a crítica aos dualismos kantianos que caracterizam a sua interpretação do mundo e do Sporting em geral e do caso Juve Leo em particular. Nem se quer lhe vou apontar aquilo a que se convencionou designar a hermenêutica da desconfiança, que tem origem no séc. XIX e emerge a partir de autores como Nietzsche, Marx e Freud. Vou apenas salientar que em momento algum da minha posta coloquei em causa a pureza da paixão de todos os que habitualmente frequentam o estádio, e aqui incluo sem qualquer tipo de pudor os próprios nazis. Nem sequer coloquei em causa a necessidade da existência da claques. Mas vir com argumentos subjectivistas num debate que é essencialmente político parece-me intelectualmente desonesto. É mandar bolas à barra. E para que não me acusem de ataques puramente teóricos vou recordar dois episódios que poderão facilitar na árdua tarefa de se perceber que interesses e paixão não são categorias opostas.
Voltando outra vez ao mítico evento do Pavilhão Atlântico, certamente que todos os que lá estiveram se recordam da forma como a palavra foi cortada a toda a oposição. Depois de Soares Franco ter falado durante mais de uma hora, de três em três intervenções dos membros da Assembleia-Geral, uma velha às portas morte (e perdoem-me desde já a falta de qualquer tipo de respeito pela senhora) fazia um pedido à mesa da Assembleia-Geral para que se passasse de imediato à votação. Á terceira tentativa isso aconteceu. Isto é, dos três ou quatro dezenas de sócios inscritos para falar, conseguiram fazer a sua comunicação à assembleia-geral sete. Nem mais nem menos. Sete sócios que falaram durante pouco mais de cinco minutos cada um. O argumento da senhora era simples. Era a sócia nº1, era velha e estava cansada e queria-se ir embora. Não colocando em momento algum em causa o sportinguismo da senhora, sócia à mais de três quartos de século, a velha teve uma atitude que objectivamente beneficou Soares Franco e a actual direcção. Isso não significa que tivessem a pagar à velha para dizer aquelas merdas ou que ela tivesse vendido uma pipa de acções da SAD no dia anterior. Isto é, que existissem quaisquer tipo de "interesses obscuros". Quer tão somente dizer que em determinados contextos determinadas atitudes têm determinados efeitos. Se a análise das motivações subjectivas para a acção não deixam de ser importantes, penso que não devemos limitar o campo possível da análise a esses subjectivismos. É neste contexto que a "paixão genuína" da Juve Leo para mim não vale um caracol. (ainda a este respeito ver por exemplo a posta do Sangue Leonino intitulada "Aquilo não".)
Segundo exemplo. Discutía-se no outro dia a justeza e o timing da entrevista do Carlos Martins e os "interesses" que lhe estariam associados. Fiquei hoje a saber, via Leão da Estrela, que publica um artigo de António Tadeia no DN, que afinal o empresário e Martins é Paulo Barbosa. O mesmo que via Miguel Veloso anda a travalhar uma batalha com a direcção da SAD. Sem querer colocar em causa o sportinguismo de Carlos Martins, nem a genuína paixão com que beijava o símbolo do clube na camisola, penso que é impossível ler a entrevista e o seu momento fora desta constatação.
Ainda uma nota final. O Paulinho diz que a contestação da Juve Leo à direcção tem razão de ser e é nesse contexto que tem que ser avaliada. Nada a obstar, se descontarmos porventura os "interesses obscuros" de Fernando Mendes e seus camaradas. Todavia, e apesar de concordar que as propostas têm que valer em si mesmas, não podemos apagar a história e esquecer o historial dos grupos, para tentarmos compreender as motivações para a sua acção e, aqui sim, aquilatarmos as respectivas intenções.
1 comentário:
Luizinho a presidente, JÁ!
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