segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Só te lembras de Santa Bárbara nas Olimpíadas - I

O Obikwelu é mesmo bom e disso todos sabem. A sua postura e humildade conferem-lhe a aura de campeão, mesmo quando não traz medalhas. Ainda assim, para as ganhar são precisas outras componentes, como as físicas e materiais.
O que vocês já não sabem é que eu me lembrei duma entrevista que, meses atrás, o Marco Fortes deu ao jornal Sporting onde ele falava das suas condições de trabalho. E uma vaga memória me dizia que o cenário estava longe da “melhor preparação de sempre” (onde é que eu já ouvi isto?), como agora afirma o presidente do COP. Após duas googladas, graças ao bendito blog “Sporting: o Rei do Atletismo” (para quando o regresso?) consegui encontrar a dita. Como factos pesam mais do que especulações sobre intenções ou da boa “educação” dos atletas, vamos direitinho a eles:

«J.S. - Como são passados os seus dias?
M.F. - Os meus dias são complicadíssimos. Acordo de manhã, vou à fisioterapia ou à massagem e depois fico à deriva, porque tenho tido problemas com o meu treinador e nunca sei se vou ter acompanhamento. Grande parte do meu trabalho é feito sozinho, obviamente com orientação, e não tem sido fácil. (...)»

(os "problemas" são melhor decifrados no Record:) «Mas mantém-se bastante céptico relativamente ao futuro, já que continua muito dependente da disponibilidade do seu treinador, o ucraniano Vladimir Zinchenko, que ganha a vida graças a uma oficina de automóveis que possui na Pontinha, nos arredores de Lisboa, só o podendo treinar nas horas vagas… quando as tem.
(...)
Cheguei a passar períodos em que treinei sozinho.” (...). Voltou a treinar-se com Zinchenko, tanto mais que a federação o financiou. “Mas este ano a federação deixou de o ajudar e pode dizer-se que, agora, ele me treina por carolice. Por eu estar na alta competição, tem direito a 500 euros anuais (não chega a 50 euros mensais) e para ele me acompanhar a algumas provas sou eu que o subsidio.”».

«J.S. - Como é o seu relacionamento com o Professor Mário Moniz Pereira?
M.F. - O relacionamento entre ele e os atletas era mais frequente quando o Clube tinha a sua própria pista. Aí, ele podia ««controlar»» toda a gente. Como ele diz, "não há nada melhor do que ter as tropas debaixo de olho". Agora, é mais difícil acompanhar todos os atletas, porque cada um treina em seu local

Mais. Em Janeiro deste ano, o clima de (in)satisfação da Comissão de Atletas Olímpicos (CAO) com a acção governativa para os Jogos Olímpicos era de tal modo acrimonioso que não tiveram papas na língua quando expressaram assim o seu descontentamento na Assembleia da Republica.

9 comentários:

Barbosa disse...

Uma coisa é o facto da falta de condições que os clubes, neste caso o Sporting, proporciona às modalidades nomeadamente ao atletismo. E essa até uma das nossas bandeiras de luta. No entanto a falta de condições não é razão que justifique as declarações dele. Se é bom estar na caminha, que fique na dele, não em Pequim à nossa custa.
Espero que continue a ter muito sucesso no Sporting, assim como o Moutinho, não irei assobiar, mas enquanto me lembrar não os vou aplaudir.
Relativamente às declarações do COP, é óbvio que cada um puxa a brasa à sua sardinha, e quando referem as melhores condições de sempre, é no sentido monetário. 15 milhões de euros! Com certeza é que é mal distribuído e comido por alguns tubarõesinhos.

luis ferreira disse...

As condições de apoio aos nossos atletas olímpicos são insuficientes,tal não desculpa as declarações dos atletas reveladoras de alguma negligência. Os responsáveis fazem bem em chamara a atenção aos atletas para tais situações, mas também deveriam ter uma actuação energica face ao governo e AR que deveriam criar um quadro de apoio aos atletas olímpicos adequado, pelo menos aos dividendos que esperam tirar quando se fazem fotografar junto a eles quando ganham.

Anónimo disse...

Obrigado por relembrares aqui estes problemas que a maioria desconhece. Eu interpretei as palavras do Marco Fortes de um modo muito menos radical. De facto o atleta deve ter tido problemas insanáveis de adaptaçao à diferença horária, que explicarão muito do que se tem passado.
Talvez ele não tenha sido muito eloquente na forma como exprimiu os seus pensamentos, mas foi certamente isto que ele quis dizer.
Aos apressados que não hesitam em crucificar o primeiro "cordeirinho" que lhes aparece à frente digo que fariam melhor em atirar-se à miserável classe dirigente desportiva que temos e aos responsáveis por essa área no(s) governo(s).
A eles e só a eles se devem todos os desaires do desporto nacional!!
Estranho também que o Leão da Estrela embarque nesta corrente sem parar um bocado para pensar. Deve andar distraído com o verão ou com algumas fotos que publica no blogue...

Anónimo disse...

"Dirigentes desportivos" é uma maneira de dizer! Gerentes comerciais, à procura de tacho ou pavões a passearem a crista!!

Barbosa disse...

cartaforadobaralho,

não se trata de crucificar o pobre do cordeirinho. Trata-se de responsabilizar as declarações de um atleta de alta competição em representação de Portugal na maior prova desportiva do mundo. Quando escrevi o post anterior foi em jeito de comentário a 2 situações concretas e para mim inadmissíveis, considero até a do ciclista bem mais grave! Mas ninguém deu importância porque não é do Sporting, e não dá luta defendê-lo! Gostaria de saber se o pessoal que está a defender o Marco Fortes, mantinha a mesma opinião se ele fosse do Benfica! Aposto que não!

Relativamente aos dirigentes, estamos totalmente de acordo. É óbvio que o mal vem de cima e não devem ser os atletas os principais visados. E acho que este blog, principalmente através de postas do Luizinho e do Paulinho Cascavel, tem feito bem esse papel de criticar essa classe de oportunistas.

Anónimo disse...

TRISTE PORTUGAL

Luizinho disse...

Pantera,

O caso do Paulino é bem mais capaz de ter alguma coisa que ver com o facto de os ciclistas andarem quase todos dopados até à ponta dos cabelos do que com um ataque de asma. Mas de qualquer modo com o Laurentino também já sabemos o que é que acontece com o Centro Antidopagem, não é? O homem (o Paulino) se calhar devia ter sido objecto de uns quantos controles e devia-lhe ter sido retirada a bolsa tivessem os exames dado positivo.
O que aconteceu é que provavelmente a um mês dos Jogos as bombinhas ainda não deviam ter desaparecido e o homem resolveu não lá meter os pés...

paulinho cascavel disse...

Pantera,
Eu não queria justificar as "desculpas" do homem com nada. Acho é que não adianta andarmos todos a expiar a nossa frustração em cima de um atleta que pelos vistos (eu ainda não vi as declarações)quando lhe pediram pela 1ª vez para abrir a boca disse merda. Primeiro porque custa-me a crer que alguém tenha a certeza absoluta da seriedade com que ele disse o que disse (mas ok, até concedo que o homm falasse sério). Segundo, e principalmente, porque as frustações, fruto da decepção que foram estes jogos, devem ser canalizadas para quem de direito. Acho perca de tempo, para não dizer injusto, andarmos a decarregar em atletas, por mais broncos ou menos "profissionais" que o sejam (A Jamaisca e a China, p.ex. tb terão os deles,)quando o mais útil era de facto perceber porquê que nas olimpíadas somos sempre, com maior ou menor grau, uma verdadera nódoa (mesmo pra nssa dimensão). E a resposta não está na genética nem em qualquer factor bio-cultural do atleta tuga. Tá essencialmente na porra da politica desportiva (e não é de agora).

Por isso é que também não me surpreeendo com os resultados.

Cozinheiro Sueco disse...

Criam-se grandes expectativas e nem sequer fornecem aos atletas condições para cimentá-las. Agora parecem um bando de rameiras.