Com a entrada de De Franceschi, e que entrada!, completa-se um primeiro ciclo de vida da Roulote e levanta-se a mãe de todas as questões: a mística, ou será antes a materialidade?, do futebol leonino e a identidade do clube. Como todos sabemos, a identidade constrói-se de uma forma relacional. Não somos os mesmos em todos os contextos e o modo como nos definimos, e nos definem, varia em função dos nossos interlocutores. A descoberta de quem somos, e daquilo que desejamos, processa-se mais por oposição aos outros do que na identificação com os nossos. Serve este intróito para abordar duas questões. Por um lado, constatar que apesar da generalidade dos roulotistas defenderem o aprofundamento do peso dos jogadores vindos da formação do clube isso não impede que de Yazalde a De Franchesci, passando por Paulinho Cascavel, e de forma perfeitamente inadvertida, sejam estrangeiros, na sua maior parte, os heróis aqui cantados. Muitos deles heróis de tempos de vacas magras. Por outro lado, para aqueles que nasceram entre o final dos anos 70 e o início dos oitenta, o Sporting, como dizia De Franceschi na posta anterior, define-se por muito mais do que pelos resultados. A glorificação da glória deixamo-la para os outros. O Sporting é para nós, e acima de tudo, uma inesgotável fonte de prazer. Não é por acaso que nas bancadas de Alvalade se canta essencialmente sobre amor e fidelidade. Os sportinguistas são aquilo que Galeano apelidou de mendigos do bom futebol. Foi aí que nos fomos realizando. É por isso que nem nos tempos mais sombrios os sócios desertaram, as bancadas foram abandonadas, os cânticos esgotaram. É por isso que a alma nunca secou. Se repararem as grandes convulsões foram mais causadas por violações a este livro de estilo, inscrito na génese do clube e actualizado na sua prática quotidiana, do que por derrotas no campo. Essas acarinhamo-las como os mais preciosos tesouros.
OS últimos dez minutos da época passada
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