quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O cliente não tem sempre razão ou Só eu sei porque fico em casa

A transformação do sócio em cliente e do adepto em fã, isto é, o processo de mercantilização do futebol vai acelerado. Mas não sem entraves. Este cliente hoje tentou pela primeira vez esta época assistir a um jogo do clube pelo qual torce...mas não conseguiu. O porteiro quis revistar a mochila do cliente, que tinha saído do trabalho às sete. No processo da revista o porteiro encontrou um perigoso computador portátil, instrumento de trabalho essencial para a sobrevivência do cliente e que lhe garante as condições económicas necessárias para ter um excesso mensal que pode despender em práticas de lazer, entre as quais se encontra o futebol. O porteiro informou, nesse momento, o cliente de que não poderia entrar no recinto onde se realizava no jogo com um perigoso portátil. O cliente empacotou a sua trouxa e dirigiu-se para casa onde assistiu à segunda parte do jogo.
Findo o jogo, o cliente, doravante, espectador televisivo e assinante da Sport TV, portanto consumidor, ouviu o treinador e os jogadores da equipa pela qual torce, e pela qual de vez em quando se torce todo, dizer que os adeptos não deviam assobiar a equipa. Um dos mais promissores jogadores do plantel, e que tarda a encontrar a sua melhor forma, chegou mesmo a sugerir aos consumidores que ficassem em casa caso quisessem assobiar. É o que este consumidor, já desiludido com o estatuto a que se encontra subjugado, irá fazer doravante. O consumidor, gostaria, porém de deixar duas sugestões.
Se é possível aos treinadores e jogadores de uma equipa entrarem em diálogo e debate com os sócios e adeptos do clube que representam, o mesmo não julgo que suceda com os consumidores dos produtos colocados no mercado pela empresa para a qual trabalham. Consequentemente talvez fosse melhor para a política comercial da Sociedade que os seus funcionários quando questionados sobre a insatisfação dos consumidores se limitassem a defender a qualidade do produto, existindo para o efeito uma miríade de frases feitas disponíveis que podendo irritar o consumidor certamente não o alienarão da marca: controlámos o jogo, jogámos bem, era fundamental vencer, nem sempre é possível jogar bem, os espectadores nem sempre conseguem entender todas as nuances de um jogo, etc.. Uma segunda solução para este problema será uma mistura entre o recurso à Constituição da República Portuguesa (os espectadores têm todo o direito de se manifestar) com um pingo de humildade (vamos tentar melhorar).
Em relação ao problema da entrada no estádio talvez fosse aconselhável que os porteiros encaminhassem o cliente para o bengaleiro (coisa que não fizeram) garantindo-lhe simultaneamente que os seus pertences ficariam a salvo de qualquer problema (já que, por exemplo, um computador de 1249 euros onde se encontra toda a vida profissional do cliente não será um objecto de somenos importância). O cliente, ao contrário do adepto, ou do sócio, não pode organizar toda a sua vida por forma a poder ir a casa guardar os seus instrumentos de trabalho antes de se dirigir ao recinto onde vai assistir ao espectáculo desportivo. Uma última nota para relevar o facto de o cliente também não apreciar especialmente ser objecto de violência policial, como sucedeu, com alguns clientes no sábado passado, aquando da deslocação a um recinto em Carnide. Neste último quadro também se incluem as suspeitas de que poderá a qualquer momento arremessar o seu computador portátil de um milhar de euros para o relvado ou que o poderá utilizar para agredir qualquer outro espectador ou força da autoridade presente no recinto onde decorre o espectáculo desportivo. Apesar de tudo, o cliente não deixa de se sentir elogiado pela elevada consideração em que a Sporting SAD o tem, na medida em que o julga com um poder de compra suficiente para destruir computadores em altercações em recintos desportivos. Não se perde tudo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Vá lá que ficaste com o computador e deixaram-te ir para casa...
Ou seja, vê as coisas de outra forma, não te confiscaram tudo isso e não te detiveram para interrogatório.
Ainda te queixas...?!
E tudo isso custou...mmm....????!!!!!

Anónimo disse...

"Apesar de tudo, o cliente não deixa de se sentir elogiado pela elevada consideração em que a Sporting SAD o tem, na medida em que o julga com um poder de compra suficiente para destruir computadores em altercações em recintos desportivos."

Se os gajos podem destruir portateis... entao

Vai dai... poe os bilhetes ao preco q poem...

Anónimo disse...

Luizinho está lá caladinho e vai ter com o tio Patinhas!!!

Anónimo disse...

A situação do portátil é completamente ridícula. Ou este clube começa a dar a importância devida aos seus sócios e adeptos ou então não sei onde isto vai parar. Aos 5 mil espectadores por jogo? Espero que não.