terça-feira, 21 de outubro de 2008

Militância

Doze anos após a vitória no último campeonato nacional viviam-se dias de delírio e loucura febril em Alvalade, lá para os lados de Abril e Maio de 1994. A equipa tinha-nos habituado a meia hora de futebol excepcional seguido de uma hora de gestão burocrática do jogo. O suficiente, porém, para alimentar os sonhos e fantasias da massa que todas as semanas ao sol e à chuva se deslocava a Alvalade. Se tivesse de escolher um momento em toda a minha história de sportinguismo que resumisse o sentimento seria provavelmente o jogo com o Boavista nessa gloriosa época. Se não me engano, e não consultei o google, acho que foi o último jogo em casa antes da recepção aos Outros, que acabaria como todos sabemos. Este jogo, em vésperas de apocalipse, sintetiza tudo o que na minha opinião, que pelos vistos foi partilhada por mais cinquenta mil à chuva (e ao Sol), é o Sporting. Figo num remate fora da área a fazer lembrar o golo que marcou à Inglaterra (mas aqui a bola saiu rasteira), Balakov num chapéu monumental ao Alfredo e finalmente Juskowiak a encerrar a questão com um pontapé de bicicleta fizeram o resultado. Mas para além dos golos o que me marcou foi o povo que estava comigo na bancada e em particular o povo mais circunspecto da Bancada Central, que na altura era o meu poiso. A hora de jogo que se seguiu ao golo do Juskowiak foi uma orgia de esperança e alegria. Os velhos da Central, com o resto do estádio, aos saltos "E quem não salta é lampião, olé, olé" a sentirem que provavelmente iriam ser campeões uma última vez antes de morrer e três ondas a correrem o Estádio em simultâneo. Nunca mais voltei a ver uma coisa assim. Nunca vi tanta esperança empacotada em tão pouco espaço. Nunca tinha visto tanto militância junta. Apesar da triste conclusão desse capítulo, no ano a seguir, e no outro, e ainda no outro e mais no outro lá estávamos todos. Onde é que anda esta gente? Onde é que pára o meu povo?


7 comentários:

Anónimo disse...

Memória curtinha e selectiva.
Não deves ter assistido ao Sporting - Beira Mar do último título, pois não?
Eu quando quero também só relembro o que me convém.

RSNT disse...
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Luizinho disse...

Caro SantosRPM,

Esses últimos minutos com o Belenenses foram também mais um daqueles momentos inesquecíveis. Um amigo meu, que estava noutro sector, disse-me alguns dias depois que saiu do estádio nesse dia com uma lágrima no canto do olho, e que viu pessoal ao lado dele a lacrimejar abundantemente. Onde eu queria chegar com esta posta, e que o anónimo imbecil não compreendeu, é precisamente aí. Independentemente das vitórias ou das derrotas existe, ou pelo menos existiu, uma massa de fiéis que só quer "amor à camisola" e "mendiga bom futebol". O Sporting nunca dependeu das vitórias para gerar "militância", como agora parece ser sendo comum.

RSNT disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JG disse...

Fantastico post!

Quanto á pergunta, um deles, o que iniciou a destruição, anda por aí...

Os outros foram embora porque este já não é o Sporting deles!

Luizinho disse...

Caro Santosrpm,

Eu também só tenho 28 anos, mas ainda tenho memória do golo do Roberto do Barcelona que nos eliminou da Taça Uefa em 86/87, ou por aí. Das bolas à barra em Madrid, do Valtinho e do Maradona em Alvalade, das "Gameboxes" do tempo do cintra, da queda do varandim e poderia continuar até ao infinito. Agora o que me chateia é também a ideia que tenho de que pareço um velho a falar. a recordar o passado para esquecer o presente de misérias e tristezas. De qualquer forma, se há algo que penso que nos define, a nós que somos o Sporting, é que sempre estivemos lá para ver aquelas camisolas a pessearem-se no relvado sem exigir nada em troca, a não ser algum respeito e amor. Acho que é isso que me faz falta acima de tudo. Mais do que os pontos, os títulos e até mesmo o espectáculo. É triste, mas acho que que me sinto carente...lol

scpgz disse...

Eu também sou muito nostálgico nestas coisas. Também estive em alvalade nesse dia. Foi lindo, recordo-me de comentar com o meu irmão...cheira a título! Era uma atmosfera brutal!

Mas acho que devemos aproveitar estas memórias para renovar a nossa mística e melhorar o presente e o futuro!