quinta-feira, 3 de julho de 2008

Tontices e tesão

Este é um post para quem pelos vistos não se serviu dumas bifanas que há tempos vendemos. Ou se calhar até se serviu. No problema.

Começar por dizer que estou mais do que convicto em como um factor primordial para a queda do numero de sócios efectivos tem sido o esgotar desse sentimento (cujo poder se situa por vezes num plano mais simbólico e menos num plano prático) de sentir que a sua contribuição mensal serve para ajudar o SEU clube e não o clube que afinal não é assim tão dele. Uma questão de pertença.

Recapitulemos então. Até hoje (e restam poucos dias para o enterro final) os estatutos e o modelo de organização implementados permitiam que os sócios "mandassem" no clube, ou seja, eles sentiam que eram importantes para o funcionamento e crescimento do SCP. Compreensivelmente o significado disto ia muito mais do que o "ei voçê aí, me dá o dinheiro aí. obrigado, volte sempre" emanado do modelo de Soares Franco e da sua Big Band de onde as importantes decisões são os accionistas da SAD que as tomam. Ora porra, por mais "ilusório" ou deficitária que fosse o real poder de intervenção dos sócios na vida do clube (indo desde as politicas e modelos de gestão, ao preço dos bilhetes, etc.) como há quem defenda que assim era (e não era), esta transferência de poder se não é a machadada final nessa "ilusão" é o quê? E desprezando essa crença, pouco a pouco, a mama da quotização vai-se acabando. Quem pula de alegria são os accionistas e nós passamos a ser clientela. E os clientes vão dando lucro pelas vias tradicionais. Não são "tontos". Ganha-se clientes com oferta de produtos finais de qualidade aliado a uma boa estratégia de marquetingue, ou seja, avaliando por esta época, com muita sorte lá se conseguiram vender 25 mil gameboxes e duas camisolas do Bonifácio. É a lei do toma lá, dá cá. Quantas vezes eu ouvi "Eu sócio?! que ganho eu com isso?!" quando estão a querer dizer "Que valor tem isso?". Na verdade cada vez menos. Por isso, cada vez somos menos.
Para mim, tontos são aqueles que continuam a acreditar que esta "nova" mama das alienações, acções e renegociações e pardais ao ninho... é a mama milagrosa e sacrossanta que tirará o Sporting do calvário. Uma mama que toca piano e fala gestirolês mas que estratifica, divide, encolhe, isola, desrespeita, arruína e perde os seus adeptos pagantes. Que, simultaneamente, numa mão acena com novos cartões de associado para fãs S3G vendendo ilusões plastificadas e na outra mão com ultimatos de restruturações profundas onde o papel dos sócios é amputado ao extremo mas donde resultarão grandes equipas, futebol espectáculo e muitos troféus, a começar pelo que aí vem.

Fico a pensar o que foi até hoje o Sporting dos sócios... e "ilusão" por "ilusão" prefiro as que me dão prazer e sentido à vida. E a Sporting SAD e os seus ilusionistas não me dão tusa nenhuma. Muito menos a pagar.

10 comentários:

Anónimo disse...

Ok, a situação actual não é famosa.
Mas o modelo de organização que é defendida neste blog já está à muito tempo esgotada.
Basta recordar os bingos, os terrenos oferecidos pela câmara, as bombas de gasolina, para verificarem que o modelo já só se aguentava, à muitos anos, com estes esquemas.
Nunca fui sócio e sempre tive orgulho, prazer e também algumas desilusões com o meu Sporting.
Sim, também considero que é o MEU Sporting.......

Luizinho disse...

Caro anónimo,

convém não confundir os planos. Uma coisa são as possibilidades formas de participação e decisão dos sócios na vida do clube. Essa sempre esteve assegurada até agora e, pendo que falo por todos aqui na roulote, é isso que fundamentalmente temos em comum no nosso sportinguismo. Na gestão concreta, concordo consigo quando diz que sem os terrenos, as bombas e os bingos os clubes não se aguentavam. Mas então, retribuo-lhe a pergunta, o que é que isso tem a ver com modelos de gestão e com a SAD? Trata-se simplesmente de conseguir gerar receitas que façam face aos gastos. E como mandam as boas regras da gestão, não ter gastos correntes que excedam as receitas correntes. O que se passou no caso dos clubes portugueses foram duas coisas. Por um lado, as fugas para a frente. Gastar o que não se tem, esperando com isso ganhar, esperando com isso gerar receitas. quando a bola vai à barra...parece que em tempos de gestão moderna e racional é a isso que voltamos. Por outro lado, os clubes portugueses estiveram quase sempre na mão de pequenos pelintras (e não falo aqui só dos três grandes, mas também deles). Essa gente que pupula pelo futebol português, e especialmente no Norte o que fez foi aproveitar-se do estatuto de utilidade pública desportiva dos clubes para privatizar recursos públicos. concretizo. O Estado português, como faz com as misericórdias, reconhecendo que não tem capacidade para prestar o que entende ser um serviço fundamental para a a população contratualiza com privados a prestação desses mesmos serviços. Aos clubes de futebol deu terrenos, bomas e bingos. à santa casa deu a exploração dos jogos sociais. Quem não cumpriu a sua parte do acordo foi a genralidade dos clubes, que pouco ou nada incentivou a prática desportiva, que na maior parte dos maiores beneficiários de dinheiros públicos é mais cara do que em qualquer ginásio. O que os clubes fizeram com o dinheiro e os terrenos foi estoirá-lo em jogadores e fazer negócios mais ou menos ilegais em que só uns uns quantos beneficiaram. Geralmente os empreiteiros que têm estado á frente do futebol português nos últimos trinta anos e os aparelhos partidários, ligados às câmaras municipais que aprovam os planos directores municipais. Não será por acso que por esse país fora as direcções dos clubes estejam pejadas de autarcas.
dito isto, o que acontece é que até ao momento, formamlmente tinhamos possibilidade de controlar estas coisas. agora já não temos. ao contrário do paulinho cascavel eu não coloco as coisas em termos de ilusão, mas dos processos de decisão que garantem maior transparência na governação dos clubes.
Agora se aparecer um tipo qualquer e comprar umas acções da SAD e resolver começar a vender jogadores contra a vontade dos sócios já nada pode fazer para o impedir. antigamente ainda poderia votar numa eleições e corrê-lo de lá. Coisa pouca, dirá! Melhor que nada, respondo.

Anónimo disse...

O meu ponto pode ser descrito na tua frase "formamlmente tinhamos possibilidade de controlar estas coisas. agora já não temos"

A situação actual não é o resultado da actuação dos dirigentes menos sérios, tal como tu sugeres, mas sim do proprio modelo de organização do clube.
Que fique claro que também eu sou muito critico da actual gestão, mas com o modelo actual (sócios 'controlam' clube, clube controla SAD) ninguem controla nada e o Sporting continua nas mãos de alguns. (Tal como no passado!)

Defender o modelo só por causa da possibilidade, remota, de remoção de dirigentes parece-me de facto muito pouco se olharmos para todos os outros aspectos negativos do mesmo.

Luizinho disse...

Não podia estar mais de acordo consigo quando diz que o problema é o modelo actual "sócios 'controlam' clube, clube controla SAD) ninguem controla nada e o Sporting continua nas mãos de alguns. (Tal como no passado!)".

Agora não percebo quando diz que a situação actual é o "próprio modelo de organização do clube". Por isso é que dividi a questão em duas partes: o modelo formal e a gestão concreta. No caso do modelo formal a questão é a da participação vs. consumo. Na gestão concreta, se assim lhe quiser chamar, a questão tem que ver com o equilíbrio entre despesas e receitas. O que eu não percebo é como é que a SAD em si mesma gera receitas? Que eu saiba a venda de jogadores, os bilhetes, a quotização, as receitas das transmissões televisivas, a publicidade e os patrocínios é que geram receitas. E se como o meu caro anónimo diz, a participção dos sócios no clube é uma ficção continuo sem perceber como é que é capaz de dizer que os problemas vêm da organização do clube num modelo associativo.

Por outro lado, quanto à seriedade dos dirigentes penso que isso é discutível e estava-me a referir a um quadro normativo e legal que proporcionou este tipo de negócios menos claros, com prejuízo para os clube e para o próprio orçamento de estado. Porém, a criação da SAD em nada veio a limitar isto, como já tivemos oportunidade de observar em múltiplas ocasiões no nosso próprio clube. surgiro-lhe que vejo os negócios da venda dos terrenos do antigo estádio, da alienação do património imobiliário e se tiver tempo e paciência veja quem foram as construtoras responsáveis pela construção do estádio e da academia e as ligações que têm à direcção da SAD.

De resto estou plenamente de acordo quanto à inviabilidade de um modelo misto clube/SAD. É aí que reside o cerne de toda a questão. eu não quero uma SAD que distribua dividendos pelos accionistas e que tire dinheiro do Sporting, e pode estar certo que isso acontecerá. A questão é clarificar as águas. A bola está no seu campo.

Anónimo disse...

Vou tentar por as coisas de modo mais claro.
Para mim o modelo associativo revelou ser incapaz de permitir que o clube seja gerido de uma forma competente ao não ter mecanismos de controlo dos dirigentes.
Os sócios, a quem caberia esta função, falharam redondamente ao longo dos anos.

A situação actual é uma situação híbrida que perpetua problemas antigos.
(Para mim, a criação da SAD vem na linha dos bingos,terrenos e afins, ou seja foi mais um balão de oxigénio que deu para mais uns anos)

Por isso não percebo como é que se pode defender o modelo associativo quando ele provou ser incapaz de impedir as negociatas e o sucessivos pocessos de delapidação dos recursos do clube.

Não existem modelos perfeitos mas este já provou a sua ineficácia, por isso venham outros.
Quais?
Pois bem, isso é uma outra discussão....

Luizinho disse...

estamos, portanto, a falar de um salto de fé. Qualquer coisa menos o que temos. Se calhar valia a pena tentarmos nós mesmos, e é o que temos tentado aqui na roulote, pensarmos em reformar, remodelar os modelos de funcionamento do sporting associativo.
O que eu continuo sem perceber, e o anónimo sem responder, é como é que considera "isto" que vamos ter melhor? Já viu a quantidade de negociatas e trafulhices a que assistimos desde o início do projecto Roquette. Só que agora já nem uma palavra vamos poder dizer. Explique-me lá como é que isto é melhor do que a situação anterior.

Anónimo disse...

Não é um salto de fé que defendo.
A discusão era sobre o modelo associativo presente e não queria misturar assuntos.
Só faz sentido discutir o futuro quando se percebeu o que falhou no presente e passado para não voltar a cair nos mesmos erros.

Mas parece-me então que estamos de acordo num ponto importante.
O modelo presente não impede as negociatas (antes do Roquete e depois do Roquete) e não merece ser defendido de forma a parecer que é a única solução possível.
Era este o ponto que eu queria sublinhar; existem alternativas mas parece-me que o modelo associativo tradicional está esgotado.

Luizinho disse...

Não sei se estamos de acordo, mas para variar é bom ter alguém com quem se consegue discutir. De qualquer forma, eu continuo a achar que o que nos vamos tornando é pior do que o que éramos. Mas venham de lá essas alternativas!!! Nós aqui na Roulote já fizemos uma série de propostas que poderiam ajudar a reformular o associativismo, mas se o anónimo tem ideias nada melhor do que partilhá-las.

Saudações leoninas (enquanto ainda temos clube, que daqui a uns tempos andamos todos a mandar saudações SADicas)

paulinho cascavel disse...

Est post era para esclarecer o que eu queria dizer com "ilusões" ou no melhor dos termos o significado e valor de certas "crenças" e a relevância que elas têm e poden ter. Obviamente que não era intenção reduzir a discussão das vantagens dos dois modelos de gestão a esse aspecto.

SL

Anónimo disse...

Só vejo duas alternativas para o futuro.
Ou se aposta no reforço dos poderes de fiscalização dos sócios, aumentando a transparência da gestão de modo que a que possam ser conhecidos aspectos que todas as direcções insistem em esconder (comissões pagas nas transfêrencias, negocios com o patrimmonio do clube, por ex.)
Ou então 'privatisa-se' de vez. Quem colocar o seu dinheiro terá então que cuidar da sua correcta aplicação.

A primeira opção implica um muito maior envolvimento por parte dos sócios em assuntos que ao longo dos anos revelaram pouco interesse em acompanhar. (Ver as participações nas assembleias em que se discute as finanças)
Assim terá que se criar mecanismos de modo a tornar esta fiscalização menos 'pesada' para os sócios (nem todos têm que ter conhecimentos para tal)Por exemplo:
-Criar listas separadas e (processos eleitorais)para um conselho que se encarregasse da fiscalização. Os dados recolhidos por esta comissão serão tornados publicos com alguns anos de intervalo para proteger os negócios presentes.
- Criar um código de conduta para os dirigentes que comportasse punições pecuniarias para os mesmos.

A segunda opção não implica todo este 'trabalho'. Os investidores colocam o seu dinheiro e só terão o seu retorno se conseguirem um envolvimento com a massa adepta (como é obvio uma equipa competitiva e vitórias)