terça-feira, 7 de abril de 2009

A mulher de César

Antes de voltarmos ao debate sobre as vmocs, a Academia, o Estádio e a SCS temos outra decisão pela frente: a alteração dos estatutos do clube. O principal ponto das alterações propostas pela direcção é a criação de uma Assembleia-Geral referendária. Associada a este ponto estará certamente a ideia da criação de uma Assembleia Delegada ou uma extensão e alteração do papel do Conselho Leonino. A cerca de 10 dias do assunto vale a pena iniciar o debate, ou à falta dele fazer desde já uma declaração de voto: não. E porquê? Por uma série de motivos.
Antes de mais pelo momento em que a proposta é feita. Cerca de 10 ou 15 dias antes da repetição da AG que teve lugar a 28 de Maio do ano passado e que deliberou sobre os temas acima expostos. O que transparece das propostas da direcção é a ideia de fazer passar a todo o custo as medidas que já foram chumbadas o ano passado. Assim sendo, parece-me no minímo perigoso levar a cabo uma revisão estatutária onde uma suposta ideia de modernidade e inovação está ligada a um conjunto particular de medidas, concorde-se ou não com elas. Em segundo lugar parece-me injustificável uma revisão estatutária cerca de um mês antes das eleições. A melhor solução, neste quadro, seria aguardar pelo desfecho das eleições. Este período de espera teria a vantagem evidente de possibilitar que as diferentes listas apresentem um projecto na verdadeira acepção do termo. Um projecto onde revisões estatutárias, gestão económica e política desportiva estivessem estreitamente articuladas, oferecendo aos sócios uma verdadeira escolha entre propostas sólidas e simultaneamente permitisse legitimar sem margem para dúvidas a proposta vencedora, qualquer que ela seja. Coisa que no presente cenário certamente não sucederá.
Por outro lado, a proposta para a criação da Assembleia Referendária e da Assembleia Delegada vai contra as lógicas que governam os privilégios dos sócios no presente quadro e são apresentadas por uma direcção que já manifestou vontade de se livrar dos sócios e dos processos de tomada de decisão democráticos. Neste momento os estatutos do Sporting privilegiam os sócios com maior participação na vida do clube. Por maior participação entenda-se anos de sócio. Este anos de sócio são privilegiados proporcionalmente com maior número de votos. Ora mantendo o mesmo espiríto também deveremos premiar os sócios mais empenhados na vida do clube. A participação em AG's é um indicador fundamental dessa participação. Revela, antes de mais, uma vontade e uma disponibilidade para se envolver na vida do clube para além do simples consumo do espectáculo desportivo ou do depósito do voto em urna. Manifesta um desejo de debater e discutir a vida do clube e tomar decisões informadas. Um dos argumentos a favor da proposta de alteração de estatutos é a possibilidade de permitir a participação de uma maior número de sócios. Perante este argumento, é necessário relembrar que nunca uma direcção perdeu tantos sócios como esta. Em segundo lugar, e para além da reduzida dimensão da massa associativa do clube neste momento, a participação em AG's é reduzida. A média andará pelos 300/400 sócios. Em momentos excepcionais, como nas Assembleias do Pavilhão Atlântico, essa participação tem rondado os 3000 sócios. Nada que impossibilite a tomada de decisões e números que poderiam ser mantidos, sem custos e sem perda de democraticidade e eficácia deliberativa, com a construção de um pavilhão nas imediações do estádio e com um maior respeito pelos sócios. Este argumento sustenta-se no exemplo do Barcelona. Para responder, basta perceber como funciona a Assembleia do Barcelona: um sócio/um voto; assembleia delegada sorteada anualmente entre os cerca de 100 mil sócios do clube. Serei completamente a favor da criação de uma assembleia delegada no dia em que o Sporting voltar a ter 100 mil sócios e aparecem 15 mil em todas as AG's. Nesse contexto faz sentido sortear sócios para que possam caber todos num pavilhão para que a discussão e o debate possam ter lugar. Até lá, a única coisa que transparece da vontade da direcção é acabar com o debate no clube. Como? A tomada de decisões pressupõe informação. Onde é que em Portugal neste momento um adepto do Sporting pode ter acesso a informação e a debate sobre a vida do clube? A imprensa desportiva anda entretida a especular sobre transferências e arbitragens. A vida dos clubes e a opinião independente não passam por ali. No jornal do clube apenas encontram espaço as propostas da direcção. Não é só desta. Sempre foi assim. O site do clube é mais para vender mercadorias. Os blogs, convenhamos, são um universo limitadíssimo. O único e o verdadeiro espaço de debate e confronto de opiniões sobre o clube é a AG. Um órgão que deveria merecer o máximo respeito de todos os sportinguistas mas sobretudo de todos os democratas. A AG, mais do que o referendo ou as eleições, é o o órgão democrático por excelência. Matá-la é matar a democracia. Trocá-la por outra coisa qualquer que será sempre um retrocesso relativamente ao que temos.

5 comentários:

pedro-tantum disse...

bravo.

peço-te premissão para fazer um copy paste para o forum SCP 10A.

Luizinho disse...

Força!

Anónimo disse...

http://www.aasporting.com/imagens/slide_final-vermelho.gif

Yazalde disse...

De acordo com a excelente exposição dos temas, certamente um aquecimento para o doutoramento.
Concordo com quase tudo. Não me importo que exista voto por correspondência. Acho que seria benéfico que não se tivesse de votar apenas nas AGs em Lisboa. Sou defensor de alargar o poder de voto fora da capital.
Mantendo as AGs como ponto fundamental de debate e votação, e simultaneamente permitir o voto por correspondência fora de lisboa a quem quisesse. Como? Cerca de 10 a 15 dias antes das AGs os sócios que estivessem inscritos em núcleos poderiam exercer o seu direito de voto através dos núcleos, sendo os votos enviados por correio para o presidente da mesa da assembleia geral. Estes ao exercer tal perrogativa, renunciavem a estarem presentes e a votar na AG. É perfeitamente possivel fazer este controlo via informática. Esses votos seriam abertos e contados durante a Ag e seriam divulgados juntamente com os votos presenciais.
Não é nada de extraórdinário, e é perfeitamente possivel de implantar, aliás se se quer implemenatar as votações por referendo, presumo que seria via nucleos, ou seja terá de haver um sistema semelhante. No fundo seria fazer como nas eleições nacionais, oe emigrantes votam por correspondência e os nacionais que estão ausentes ou impedidos de votar no dia das eleições podem ir à junta de freguesia e antecipar o voto.
SL

Luizinho disse...

Para o que interessa aqui para o caso somos todos doutorados em Sportinguismo Avançado. quanto à tua proposta não vejo nada contra. Mas de qualquer forma não é esse o debate neste momento.E pela minha parte neste momento só me interessa discutir o que está em cima da mesa. ao futuro o que é do futuro. a nós o que é do presente!