terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Da gestão mercantil ou a morte do desejo

Não vou para já falar no fartote que têm sido estes últimos dias para toda a gente, menos para nós, claro está. Nem sequer na legitimidade destes corpos sociais demissionários para desenvolver operações deste nível. O que não posso deixar de sublinhar é a irracionalidade económica das decisões dos grandes gestores que têm vindo a gerir o Sporting Clube de Portugal e a sua SAD. Penso, por exemplo, no lado esquerdo e peço desculpa àqueles que já apanharam com este exemplo, mas parece-me paradigmático. No Verão de 2000, depois de termos sido campeões era preciso tomar decisões: De Franceschi (um grande bem hajas), fica ou sai? O jogador custava 400 ou 500 mil contos. Na pior das hipóteses 2,5 milhões de euros. Os nossos brilhantes gestores acharam que não valia a pena. Depois da época começar em descalabro, resolvem, em Janeiro, dar 7 milhões por um jovem chileno de seu nome Rodrigo Tello. Depois de muito penar, ao fim de uns anos, o jovem finalmente começou a jogar à bola, tanto no meio-campo como na defesa. Chegados aos seus 27 anos (ou 26 ou 28, não interessa) e ao fim de sete anos no clube, o jovem quer duplicar o seu salário de 25 para 50 mil euros por mês - recorde-se que o tecto salarial andava pelos 75 mil. A direcção entende que não, não valia. Logo a seguir e naquele verão, para poupar uns, vá, 25 mil euros vezes 14 vezes 4, isto é, cerca de 1,4 milhões de euros ao longo de quatro anos por um jogador adaptado, experiente, regular, sem ser genial, e com sete anos de casa, vai buscar Leandro Grimi, jovem promessa argentina por 3,5 milhões de euros, sem contar com salários. O resultado é o que todos conhecemos. Para compensar esse fiasco, vai buscar um jogador, Evaldo, regular e sem rasgo que custou mais 3 milhões. Poderíamos também dar o exemplo da forma como a poupança com Derlei resultou na contratação, mais uma vez em Janeiro, de Pongolle, e poderíamos multiplicar os exemplos. A verdade é que no último ano e meio o Sporting vendeu cerca de 25 milhões de euros de jogadores e comprou cerca de 27 milhões. Alguém consegue dizer que a equipa está mais forte? Trocar o certo pelo incerto, depois de uma poupança de alguns milhares de euros na folha salarial tem sido a regra da filosofia de miséria que obstinadamente a pandilha do Roquette insiste em seguir. Um clube sem esperança, sem expectativas, sem rumo e sem ambição que é objecto de chacota mundial é o resultado desta política: o triunfo da mediocridade mercantil sobre uma instituição centenária. Continuaremos ao longo dos próximos dias a chicotear o cadáver. Pena que esse cadáver seja do nosso clube.

1 comentário:

Leão de Stª Engrácia disse...

Acordo total !!! 100% certo o que escreves.

SL