quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Do populismo e do tachismo ou os "responsáveis"

Discute-se muito por estes dias a oposição entre candidatos e projectos. Ou seja, para muita gente esclarecida é importante antes de discutir os candidatos discutir os projectos que irão ser submetidos ao escrutínio dos sócios no dia 23 de Março. Não podia estar mais de acordo. Todavia, tratam-se de dois elementos da mesma equação. Em tempo de campanha eleitoral é relativamente simples a qualquer um dizer aquilo que julga que os sócios querem ouvir. Parece-me, resumindo, que neste momento, em termos de projecto, os sócios do Sporting dividem-se em duas correntes, quer em, termos desportivos, quer em termos financeiros. Em termos desportivos, e no futebol - que é o que motiva estas eleições -, verifica-se uma oposição entre aqueles que querem uma aposta séria e consolidada na formação e aqueles para quem só será possível ganhar títulos com a contratação de jogadores experientes e de créditos formados. Em termos financeiros, o terreno será disputado entre aqueles que querem manter a maioria da SAD e aqueles para quem um volume significativo de capital externo ao clube é fundamental para garantir o sucesso desportivo mas, sobretudo, a sua sustentabilidade financeira.

Até aqui tudo bem. Podemos estar de acordo com uma ou outra visão do clube, ou até pugnar por uma mistura equilibrada entre as duas posições. Ninguém é mais ou menos sportinguista ou mais ou menos credível por defender uma ou outra coisa. Existem sempre alternativas e cada uma terá as suas vantagens e desvantagens. É aqui que o problema se torna pessoal. É impossível atender aos argumentos de seja quem for se nos abstrairmos do que fez e defendeu no passado. É, por isso, fundamental ter atenção não apenas aos projectos mas a quem os propõe.

Vem isto a propósito do habitual discurso contra o populismo que se ouve um pouco por todo o lado. Quase sempre, e em todas as áreas da vida, o epíteto "populista" ou "aventureiro", que no futebol português se tornou sinónimo de "Vale e Azevedo", é lançado por aqueles que detêm o poder e a influência contra aqueles que se afirmam como alternativa. Seja no contexto de uma mera substituição de dirigentes - o problema não é o projecto mas a credibilidade de quem o implementa, e "eles" são populistas, não têm credibilidade, não são respeitados pelos parceiros - seja no quadro da afirmação de uma alternativa - "eles" vão-nos conduzir ao descalabro com as suas ideias populistas.

Nos últimos dias temos assistido a múltiplas declarações de antigos dirigentes (Ricciardi, Menezes Rodrigues, Santana Lopes) notáveis avulsos e jornalistas diversos (oiça-se o comentário de Mário Fernando, editor de desporto da TSF no Fórum desta semana dedicado ao Sporting) contra a ameça populista e os aventureiros. A questão que me coloco diz respeito à legitimidade de qualquer uma destas pessoas - personalidades, na língua de pau mediática - para fazer comentários sobre seja quem for que se candidate às eleições do Sporting. Ricciardi, por exemplo, nunca disse uma palavra sobre os gastos do clube. Todos os relatórios do Conselho Fiscal elogiaram sucessivamente todos os exercícios que lhe foram submetidos. Na TSF, por exemplo, discutia-se quem deveria ser o próximo presidente do Sporting. Nomes, portanto. Não me lembro, jamais, de ter visto naquela estação, justamente considerada um órgão de referência na comunicação social portuguesa, qualquer reflexão séria sobre os múltiplos aspectos que influenciam a configuração do futebol português. Eles, os supostos responsáveis, são, sem dúvida, os maiores responsáveis pelo estado a que chegou o clube. Mas, pior ainda, são responsáveis pelo estado a que chegou o futebol português.

Em suma. O primeiro passo para uma campanha eleitoral interessante é ignorarmos, olímpicamente, as dicotomias candidato/projecto e sério/populista. Sempre que um dos "responsáveis" saca do "populista" é bastante provável que seja um "tachista".

1 comentário:

Anjo Exterminador disse...

Essa gente está a fazer o seu papel. Terão muito a perder com tudo isto. Não deixa de ser mais um retrato do país que temos hoje. O que me deixa aterrado é ver o número de sportinguistas (adeptos + sócios) que têm o mesmo discurso do "ai que desgraça! agora é que vem aí um que vai levar o Sporting ao abismo."
Dizem isto (já o testemunhei por diversas vezes!) com ar grave e apreensivo, como se tivessem vivido em Marte nos últimos 20 anos, como se o Sporting de hoje ainda tivesse margem para ir para o abismo!
Esperemos, pacientemente, que a nossa seja, de facto, a melhor massa associativa do mundo. Pela amostra cheira-me a esturro. Mas, nunca se sabe...