quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Umas migalhas para o mendigo faminto

Como todos os meninos uruguaios, eu também quis ser jogador. Jogava muito bem, mas só de noite, enquanto dormia: de dia era o pior perna-de-pau dos campos de meu país. Como torcedor, também deixava muito a desejar. Alberto Schiaffino jogava no Peñarol, o time inimigo. Como bom torcedor do Nacional, eu fazia o possível para odiá-lo. Mas Schiaffino, magistral, armava o jogo do seu time como se estivesse do alto da torre mais alta do estádio, vendo o campo inteiro. Eu não tinha saída a não ser admirá-lo. Os anos passaram e com o tempo acabei assumindo minha identidade: não passo de um mendigo do bom futebol.

Eduardo Galeano, Futebol ao Sol e à Sombra

1 comentário:

Anabela Pinheiro disse...

Muitos miúdos, tiveram o seu sonho: nem todos podemos fazer o mesmo!!! Mas o facto de ter tentado, diminui ,a sensação de frustação!!! Pelo menos tentou !!!
Muitos,nunca ousaram tentar!!!!