Parece que as pessoas que nos representam nos relvados de todo o mundo descobriram uma nova, e por isso experimental, táctica. Uma nova forma de ganhar jogos de futebol. Não se trata do 4-4-2, nem do 4-3-3. Nem tão pouco do saudoso e caído em desuso 3-4-3. Também não é a táctica do pirilau, popularizada em Portugal por Paulo Autuori e que até deu bons resultados, embora com outros protagonistas, no Boca Juniores do final da década de 90, se não estou em erro (isto é muita informação para processar e um gajo perde-se).
Mas por falar em perder, falava-vos da nova táctica do Sporting. Pelo que deu para perceber no final do jogo do Herta o Sporting teve como reforços de inverno, antecipados e ainda antes de abrir a época de transferências, a astróloga Maya e o filósofo francês (vá não tenhamos medo das palavras) pós-moderno chamado, precisamente, Jean-François Lyotard.
Dizia-nos o filósofo, e para atalhar caminho, que vivemos num tempo em que as grandes narrativas (o iluminismo ou as narrativas religiosas, por exemplo) que davam sentido à acção humana e às próprias formas de organização social institucionalizadas (o estado-nação, por exemplo) foram para o galheiro. A partir dessa evidência, o filósofo, com muitos outros, considera que somos nós mesmos, libertos não apenas dos constrangimentos que nos são impostos pela história, com o T grande (como o homem) de tradição, mas também das forças sociais que nos moldam, que construímos a nossa própria história, mais no sentido de estória ou da petite histoire (sem h grande), para utilizar uma expressão francesa.
O filme "Os Irmãos Bloom" mostra um bocado destas merdas e da impossibilidade de vivermos uma vida "real", "unwritten" nas palavras de um dos personagens (apesar do filme não ser grande coisa, mas aqui fazemos essencialmente crítica desportiva e não crítica cinematográfica, embora a nossa crítica desportiva não tenha apenas um sentido estetizante mas tenha antes um intuito totalizante, se é que percebem o que é que quero dizer?). Mas entrei numa tangente, e não uma diagonal, reparem, tal como é impossível vermos diagonais no futebol do Sporting.
Mas, e retomando, a malta que constitui o plantel do Sporting resolveu construir a sua própria narrativa, acreditando assim que se alterar a sua forma de ver o mundo o próprio mundo se transformará de acordo com a sua vontade. No fundo é a pós-modernidade. Podia ter usado o conceito logo no início e sem mais, mas apeteceu-me não só render estilo (outra cena muito pós-moderna) como também escrever sobre o que escrevo e as motivações para o fazer (a tal auto-referencialidade pós-moderna, aqui misturada também, esperemos, com uma dose de ironia e humor auto-depreciativo, também eles muito pós-modernos; espero, porém não chegar ao kitsch, que como toda a gente sabe é meio caminho andado para o fascismo). Não sei se já repararam mas a pós-modernidade também nos oferece muitos travessões (e também travessuras), palavras compostas e neologismos e estrangeirismos (embora neste texto ainda não tenha utilizado nenhum), como a lyotardização do futebol do Sporting, mas uma lyortadização não rizomática, topam?
Bem, já chega de conversa de merda. O que eu quero mesmo sublinhar, de forma bastante moderna e iluminista (não confundir com os lampiões) é que no final do jogo de hoje com o Herta de Berlim o Carvalhal diz que ficou contente com a equipa e que esta mostrou uma qualidade de jogo agradável. O capitão João "o especialista nas bolas paradas" Moutinho (que metáfora usar, a do diapasão ou a da cartilha?) também acha que "fizemos um bom jogo, criámos bastantes oportunidades. O Hertha acabou é por ser mais feliz ao sair daqui com uma vitória". Rui Patrício, o guardião do templo (que já não existe, recordemos a lição de Lyotard), acrescenta convicto que "fizemos um excelente jogo, uma excelente exibição mas infelizmente perdemos."
Esta malta está mesmo convencida que se se convencer de que a coisa corre bem a coisa irá mesmo correr bem. Aqui estão mais próximos dos manuais de auto-ajuda que acham que uma pessoa com uma boa auto-estima é capaz de tudo ou da astróloga Maya que também acha que se pensarmos positivo coisas boas nos vão acontecer. Isto é, tangas new age que encaixam muito bem com as tangas pós-modernas. Eu estou mais com o Murphy: " Se algo pode correr mal, então correrá ainda pior".
4 comentários:
Carvalhal, Moutinho e Patrício... gente sensível, portanto! Artistas, por assim dizer.
Eu diria antes "tirem-me deste filme!"
A vantagem disto tudo é que estes artistas, não sei se voluntariamente ou não, possuem uma estraordinária capacidade de representar o mundo e nos dar a ver algumas das suas subtilezas.
o mais bizarro é que eles convencem-se que vai correr bem, aquilo corre mal, e eles continuam a achar que correu bem!! Eu acho isto um nível já muito à frente da Maya. devfe ser uma cena nova new age muita marada.
olha, não temos diagonais mas temos excelentes tangentes e alegres semi-circunferências à volta da grande área... é dar-lhes um esquadro já que já têm a régua e o transferidor.
«Da bancada do OlympiaStadion com -4° pareceu-me mais uma exibição tão má, mas tão má, que amanhã vou ser gozado por todos os meus colegas alemães...nesta época não ponho mais os pés num estádio para ver "este sporting" que não é o meu...»,
comentário no mais futebol
...e ficámos nós em 1º lugar e com menos seis golos encaixados desde a ultima vez na germânia
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