quinta-feira, 2 de setembro de 2010

De lobo a cordeiro

Antes que me comecem a insultar com impropérios daqueles que se usam muito nas sessões de colheita de urinas da ADoP, faço já uma declaração de intenções: não gramo o Carlos Queiroz. Apreciei o trabalho que fez até 91, mas daí para a frente acho que não conseguiu fazer nada de jeito. E a passagem dele pelo Sporting, então, foi um desastre daqueles que reclama intervenção da Protecção Civil e tudo. Ainda hoje tenho pesadelos com o 6-3. Fiquei-lhe com um pó desde aquela altura que não há espanador que o consiga sacudir.
Mas..., acho eu, o que a ADoP e o secretário Laurentino andam a fazer, não se faz. Nem ao Queiroz!
Não fora os resultados da Selecção e nada disto estaria a acontecer. Essas figuras sinistras, pardas e patéticas que povoam o dirigismo desportivo português (incluindo o oficial) e que a gente não tem maneira de varrer do planeta, estavam a esta hora a engolir o sapo, ainda com as patinhas de fora da boca e sorriso amarelo. Como os resultados, não sendo propriamente um desastre, não foram de molde a permitir que essas figuras, figurinhas e figurões se pudessem encavalitar neles (porque era o que fariam se pudessem!) para tirar os respectivos dividendos, vá de cruxificar o homem. O Queiroz não deu uma folga clara à crise!! Eis o pecado do seleccionador. E foi apoiante de Cavaco.
O governo então devia estar em grande ansiedade porque um lugar no pódio para Portugal daria certamente direito a uma semana de férias pagas em Cancoon para todos os pensionistas idosos e comemorações nacionais durante um mês ou mais. Assim, tivemos de voltar ao álibi da crise internacional... A sanha do Laurentino é patética de óbvia.
É que há em tudo isto uma contradição tão grande, tão grande que eu até fico espantado como é que o Madaíl, o Laurentino e toda essa cambada ainda conseguem manter BI português! Reparem no seguinte, a acusação que se faz a Queiroz, no fundo, resume-se a isto: não querendo ou não podendo criticar os resultados da Selecção (não é por acaso que tudo isto surge uns sólidos quatro meses depois do acontecimento que originou o processo; eles esperaram para ver...), acusam-no de, por conduta imprópria, prejudicar a Selecção.
Ninguém contestou o resultado dos exames efectuados. Não houve doping na Selecção! Não houve sequer impedimento da actuação da brigada da ADoP. Ninguém apontou uma pistola aos médicos e disse "Fora daqui!" Não havendo impedimento, tendo sido feitas as análises, não havendo doping, não havendo matéria da competência da ADoP, está-se a julgar o quê?!
Os exames foram feitos, pelo que se percebe, sem interferência nos resultados e estes não foram positivos. Não houve mais ninguém responsabilizado pelos factos que terão ocorrido, não há um reparo do foro clínico, nada! Ao doping a ADoP disse nada!
Trata-se, portanto, apenas de avaliar até que ponto uma "boca" do seleccionador se repercute na imagem da Selecção e, ipso facto, na do País. Aparentmente, a ADoP e o Laurentino apenas estão, pois, a velar pelo País... Mas, se não houve impedimento da acção da ADoP, se a operação teve lugar, se não houve doping, o que raio está a ADoP a julgar então neste caso?
O Queiroz só pode actuar no plano desportivo. Cabe a outros actuar nos outros planos. (Em rigor, se há consequências de facto negativas, quem deveria ser responsabilizado, ao nível da Selecção, por quaisquer factos relativos à conduta dos seus membros são os dirigentes que escolheram os colaboradores prevaricantes. Mas, vamos dar este facto de barato...) No plano desportivo a sua actuação não teve directamente nenhuma consequência e não afectou nada a prestação da Selecção e o prestígio do País. Pelo menos ninguém até agora usou esse argumento. Então é na "boca" do seleccionador que reside o problema e o problema é as consequências que tudo isto teve para a Selecção. Que já vimos que foram nenhumas.
Agora vejam o putedo que se gerou com a actuação neste caso, primeiro do Secretário de Estado Laurentino e depois da ADoP. Delas resultou que em vésperas dos primeiros jogos de qualificação da Selecção para o Europeu, estamos sem seleccionador em campo, em "piloto automático", como diz o Madaíl, projectando uma imagem de ineficácia, incapacidade de planenamento, uma imagem de total caos das nossas estruturas desportivas, uma imagem, agora sim, totalmente desprestigiante do País. E tudo isto, ainda por cima, numa altura em que os técnicos da FIFA vêm a Portugal apreciar a bondade da candidatura de Portugal à organização, conjunta, do Mundial de Futebol de 2018 ou 2022. Ineficácia, incapacidade de planenamento, caos e desorganização de que as entidades estatais se tornaram totalmente coniventes ao agirem como agiram.
Que rica imagem terá levado de Portugal a delegação da FIFA, que rica demonstração do modo português de funcionamento das instâncias desportivas oficiais, que rica imagem que o País e os seus dirigentes projectam do País com este "caso" perfeitamente patético, cujas causas mesquinhas, ainda por cima, se topam à distância!
Quem prejudica então o quê?
De lobo, Queiroz passou, para mal dos nossos pecados (porque no final deveria ser apenas o seu mérito desportivo que deveria estar em causa), a cordeiro. Sacrificado no altar dos interesses mais obscuros, por sacerdotes de passados também obscuros, sacerdotes mesquinhos, sem mérito, sem glória, sem ponta de grandeza. Sacerdotes que não estiveram, não estão e nunca poderão estar à altura dos acontecimentos.
Só espero que o fanatismo e a miopia não impeçam os portugueses de apontar o dedo aos culpados de tudo isto e de lhes dar o castigo que merecem. É que em última análise, a pena aplicada a Queiroz, vai ter consequências desagradáveis para todos nós. Mesmo para aqueles que não gostamos dele. Nem de Cavaco.

2 comentários:

resistente disse...

eu sei que vocês gostam...

http://resistencia06.blogspot.com/2010/09/e-agora-para-algo-completamente.html

1906

Luta & Resiste!

Peter of Pan disse...

"Apreciei o trabalho que fez até 91, mas daí para a frente acho que não conseguiu fazer nada de jeito. E a passagem dele pelo Sporting, então, foi um desastre daqueles que reclama intervenção da Protecção Civil e tudo. Ainda hoje tenho pesadelos com o 6-3. Fiquei-lhe com um pó desde aquela altura que não há espanador que o consiga sacudir."

Parabéns. Tiraste-me as letras do teclado. Concordo em absoluto.